Meninos de rua: a infância
A infância de toda criança é coberta de fantasias, brincadeiras, sonhos e brincadeiras. As crianças nascidas nas ruas também povoam suas cabecinhas com estes sonhos, estas fantasias estas brincadeira. Só que aos sonhos, fantasias e brincadeiras são ajuntadas outras coisas como perigo, liberdade, crueldade.
Brincadeira de menino de rua tem banho de rio, não importando qual o rio, qual o canal, que maré. Hora? Nem se fala nisso. Para que hora de dormir, para que hora de acordar? E se acordar. Correm sem parar. Quando estão parados, estão mal. Há algo mais faltando, quem sabe cola, quem sabe fumo, quem sabe crack. Até para correr da polícia é brincadeira. Duvido um policial saber de todos os becos e entrelinhas da cidade. Verdadeira peraltice é enganar para não ser capturado.
Sonho de menino de rua é sonho de gente grande. Ter uma casa para morar, ter família para cuidar, ter alguém para amar. Cuidam de si por entre as vielas da vida ingrata, de suas casas a céu aberto, de telhados incandescente e pontual. Protegem-se de todos os inimigos, que são muitos. E a poucos amigos, se ajuntam para dar caldo e meter medo, crescer em grupo. Sonho de quem perdeu a infância na infância. Que resolveu ser homem, que resolver dar um chute na adolescência e queimar fumos e etapas da vida para poder sobreviver.
Fantasia de menino de rua é ter boneca, bicicleta e pião. Empinar papagaio e jogar bola no campinho de barro com os amiguinhos até a noitinha. Fantasia de menino de rua é ter mesa farta, ceia de Natal, dia das crianças, aniversário com bolo e guaraná. De correr apressado no dia 25 de dezembro e procurar a meia que nunca colocou debaixo da cama que nunca existiu e ver seu desejo realizado. Fantasiar não é proibido, não pagam nada, mas dói fundo na alminha gasta de cada um.