Vaso de flores
O gritinho fino da sobrinha que veio visitar os tios era assombroso. Estava naquela fase de que tudo é pergunta e por que. Por que isso? Por que aquilo? Por que não? Às vezes tentava responder as perguntas sozinha. Se não conseguia, inventava que era uma fada e que tudo era transformado por sua magia.
Mas hoje era diferente. Queria uma resposta perfeita, não bastavam as velhas três letras. A tia veio correndo ver o que era e o que deveria ser. Suscedia-se que o tio estava sentado na velha poltrona de guerra e a sobrinha pulando no seu não-não-não! A tia perguntou o que era. A culpa era do vaso de flores. Mas o que ele haveria de ter feito, olhos de mel? Não é o que ele fez tia, é de onde ele veio. Acho que é da Terceira Dinastia do Japão. E como a senhora sabe? Quando eu o comprei de um vendedor, o vendedor me garantiu isso. E quanto que a senhora pagou? Na época foram uns duzentos reais. Nossa isso tudo? É, mas o vaso é bonito. Não sei não...
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Em verdade, este vaso foi feito por uma dona de casa do século XXI. Nem era para ser um vaso, mas acabou saindo e ficou assim. Mas essa dona de casa não gostou do vaso e o vendeu a uma menina por cinqüenta centavos. A menina deu o vaso para o pai, que o re-pintou e o vendeu numa loja de antiguidades por três reais e cinqüenta centavos. Então um caixeiro viajante o comprou por quatro reais e o revendeu por R$200,00, alegando que era da dinastia chinesa, que acabou sendo confundida por um vaso japonês.
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No outro dia a sobrinha, meio injuriada pelo mal tempo, esbarrou no vaso que caiu no tapete. Uma pequenina lasca se soltou do objeto. No fim a lasca entrou no pé do tio, que inflamou e precisou fazer uma pequena cirurgia. No vaso de flores foram colocadas margaridas.