Conto #035: O INTERDITADO Parte 3/4

[…]

- “Ai, meu Deus! O que vai ser agora do Júnior e de mim”. Entram num inconsolável pranto.

A perícia transcorreu na maior normalidade e facilmente foi determinada a causa mortis. Finalmente saiu o laudo pericial. O Dr. Anastácio cometeu suicídio. O Laudo médico atestava que ele sofria de uma metástase em grau 5, em decorrência de uma hipertrofia da próstata. O diagnóstico do câncer de próstata concluiu que ele era portador de dois tipos de câncer em estado bastante avançado. A dosagem do antígeno prostático específico (PSA, sigla em inglês), sugere a existência da doença e indicarem a realização de ultrassonografia pélvica e prostática transretal, confirmaram a suspeita. A biopsia prostática transretal foi decisiva para o diagnóstico preciso. Um outro diagnóstico deve ter virado sua cabeça de vez. Atestava que ele tinha HPV no pênis em 3° grau. Provavelmente a ideia de uma cirurgia radical no “belo antônio” teria sido a causa dessa loucura e teria levado ao suicídio. Sobre sua escrivaninha um jornal com a manchete circundada com uma caneta porosa vermelha:

" 80% dos casos de câncer de pênis precisam de amputação, diz

HC Hospital de SP atende cerca de 60 pacientes com a doença

por ano.

Câncer está ligada a maus hábitos de higiene e atinge 2% da

população."

Só pode ter sido isso. Mas como aquele médico tão esclarecido poderia ter-se descuidado a tal ponto de deixar chegar àquela situação caótica? É inconcebível. O atestado de óbito foi lavrado e apontava a causa mortis por falência múltipla de órgãos vitais em decorrência de baixa defesa imunológica - o corpo foi liberado para o velório. O corpo foi velado no salão de festas do Clube dos Médicos da cidade. Os curiosos e amigos lotaram o recinto. Todos queriam dar o seu último adeus àquele que era o símbolo da solidariedade e humildade. Nunca havia negado um atendimento, mesmo a quem não podia pagar. Dona Amélia inconsolável, chorava abraçados ao Júnior que atônito, sem entender ainda o porque de tudo aquilo. Aliás, quem entendera?

No dia seguinte, o féretro foi no Cemitério Encontro Divino. A necrópoles estava lotada; todas as vielas entre túmulos totalmente tomada de pessoas e repórteres.

[…]

Cinco anos se passaram deste aquele fatídico evento. Amélia conheceu Roberto Francis e começaram um namoro que foi-se aprofundando ao ponto de ele pedir a mão de Amélia em casamento. Ela aceitou de imediato. O Francis facilmente conquistou o coração do Júnior. Um grande problema que enfrentaram de imediato foi com o seu pastor. Ele se recusou a celebrar aquele casamento pelo fato de os noivos não concordarem em se casar civilmente. O motivo era a pensão da viúva. Se houvesse a união civil fatalmente a noiva perderia a pensão deixada pelo finado marido. O Ministro Evangélico não cedeu e eles resolveram se casar da Igreja Romana. Assim, começaram a sua união da qual nasceram Júlia e Roberta. O mais constrangedor era quando eles tinham que assinar algum contrato. Ele sempre figurava como solteiro e ela como viúva.

Houve momentos de felicidade nessa família, mas os dissabores foram em maior número e não deu outra. O Francis, recebeu o diagnóstico médico de portador da síndrome do distúrbio bipolar. Passaram muitas situações constrangedoras devido aos problemas causados pelo marido, quando na polaridade negativa. Ele se transformavam totalmente de anjo a demônio. Foram 15 anos de sofrimento que levaram Amélia a um estado profundo de angústia, sofrendo grande baixa das defesas imunológicas. Teve quer , por causa de três tumores malignos no útero, se submeteu a uma histerectomia radical, mas apesar de todos os esforços envidados, após cinco anos de infrutíferos tratamentos quimio e radioterápico, ela veio a óbito recentemente.

A vida do casal, com reflexos nos filhos, teria sido bem melhor se não tivessem vivido uma farsa em função de uma pensão. Está certo que perder de R$ 8.570,00 de proventos não seria uma decisão fácil de tomar, mas daí o marido se acomodar e deixar seguir, sem tomar uma postura de cabeça e supridor do lar era uma situação constrangedora. Foi mais fácil deixar acontecer e ver aonde tudo aquilo iria dar.

Júnior cresceu e superou a perda do pai, mas não foi nada fácil. Recebeu a pensão deixada por seu genitor até os 24 anos, quando se formou em Letras. Perdeu a pensão um anos antes do falecimento de sua mãe. Agora, após a morte dela, a família está em grande apuros. A pensão foi automaticamente suspensa. As filhas da falecida não tinham direito de receber o benefício, por não serem filhas do falecido. O esposo muito menos nem o Júnior teria mais esse direito.

Aquele jovem cheio de vida e ideais preparou-se com afinco em várias áreas: Bacharel em Letras com Inglês, curso de pilotagem de avião, curso de comissário de bordo, dominava bem o Inglês, Francês, Russo, Hebraico, Alemão, Espanhol, Italiano e Latim. Tinha tudo para ser um profissional bem sucedido em qualquer área que tentasse, mas o pior estava por acontecer.

[…]

Continua no próximo episódio...

Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 15/10/2011
Reeditado em 15/10/2011
Código do texto: T3277683
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