Meu Primeiro Emprego De Carteira Assinada
É, primeiro emprego, cheio de esperança de poder comprar tudo o que sempre sonhou, de poder descansar sem ser chamado de vagabundo, felicidade em um ambiente agradável de se trabalhar, poder planejar o futuro.
A História começa com meu exame psicotécnico que foi facílimo, aliás nem sei como funciona aquilo, mas o importante é que passei, mesmo assim não tinha muita esperança, pois não tenho experiência, embora não fosse exigida. O cargo era para ajudante de motorista, um nome chique para carregar e descarregar carreta e de vez em quando caminhão.
Acabou que me chamaram para uma entrevista e para minha surpresa já me encaminharam para levar os documentos e fazer exames médicos, aliás o exame foi uma piada , pois não me examinaram, apenas me perguntaram se eu tinha feito alguma cirurgia, falei que não e pronto, teve também um exame de ouvido, esse foi sério, mas não entendi o motivo, pois não tinha nenhum barulho muito forte na profissão.
Depois de toda essa enrolação que demorou mais ou menos uma semana, me disseram que iriam encaminhar tudo para Ribeirão Preto que é onde fica a central da empresa e mais uma semana depois me chamaram, pronto tudo certo, comecei numa segunda – feira das 7 da manhã as 5 da tarde, que era o horário fixo, mas podíamos fazer hora extra, então geralmente, ficávamos até as 6 ou 7 horas, ninguém tinha corajem de não fazer hora extra, pois daria mais serviço pros outros e poderiam sair falando, além disso no contrato estava escrito que o horário era de segunda a sexta e, as vezes no sábado, mas na verdade todo sábado tinha serviço e serviço dobrado, me disseram que podiam ficar até as 8 trabalhando.
Claro que tinham as partes boas também, tínhamos horário de almoço que era quase duas horas, dava pra descansar bastante, comíamos ali mesmo, tinha um buffet, mas cobravam cinco reais, que podia ser pago no fim do mês com a cesta básica, que era um cartão com uns cento e quarenta reais, mas como a maioria queria usar esse cartão em mercado, traziam de casa. Eu comia ali mesmo e tomava muito suco que acompanhava o almoço. Depois deitávamos em uma calçada isolada que não passava ninguém e dormíamos um pouco, quando não estávamos reclamando dos puns e arrotos que emanavam no ar.
Até aí tudo bem, deu pra agüentar muito bem, mas eu era novato e então era a bola da vez lá dentro e logo que entrei já ganhei apelido, salsicha, é, aquele mesmo do scooby doo, por eu ser realmente, eu admito, muito parecido e, por isso não liguei muito para isso, o apelido pegou rápido e eu agüentando, mas um dos rapazes que trabalhava lá olhou pra mim e começou a dar rizada e, nessa hora eu não me agüentei e, vendo que ele era muito gordo, disse a ele: - Que foi cara? Pelo menos não sou gordo, me sinto feliz em saber que tem gente pior que eu.
Ele ficou sem resposta, não me disse nada e eu continuei meu serviço, mas já estressado no primeiro dia.
No segundo dia, eu estava arrependido do que falei e pedi desculpas ao gordo, ele aceitou e achei que tudo estava resolvido e tranqüilo. Ledo engano.
No terceiro dia todos começaram a me chamar de salsicha, pois viram que eu estava me ofendendo e eu sei que é aí que o apelido pega, mas o pior ainda estava por vir...
No quarto dia, um rapaz que eu não suspeitava de ser zoador me pediu muito seriamente:
- Pede um saco de ar pro Marcelinho (Marcelinho era o chefe da gente ali)
Eu achei estranho, nunca tinha trabalhado numa transportadora e podia ser que existisse , pois lá também tinha um carrinho chamado paleteira que carregava o palete com bastante coisa de uma vez só e eu nunca tinha ouvido falar, então pedi pro Marcelinho e a zoeira foi total!
No quinto dia eu já não agüentei ir, mais tarde liguei na empresa e disse que iria lá pedir minha demissão, chegando lá assinei vários papéis, devolvi um par de luvas e uma bota que eram da empresa e fiz uma carta de demissão dizendo que estava saindo pelo mau ambiente de trabalho pelo desrespeito de alguns funcionários e, quando estava saindo me convidaram a passar a trabalhar a noite das 19 as 5, na hora eu não aceitei, mas chegando em casa pensei melhor e liguei pedindo para ir a noite e, então, dois dias depois comecei.
No primeiro dia, tudo foi muito bom, o pessoal da noite era bem mais bacana, eu agüentei muito bem a noite inteira, só tinha um problema, a noite era para carregar caminhão e de dia era descarregar, tudo bem, tinham os carrinhos, você não fazia força nenhuma, mas de dia você chegava na cidade correspondente ao número da caixa e colocava no chão e pronto, o único problema era saber a que cidade o número da caixa pertencia, pois tinha que ser decorado um papel enorme com os números e a cidade a que pertenciam, eles davam um papel, mas até achar no papel perdia – se muito tempo e, então, era melhor perguntar que ia mais rápido.
A noite, não tinha papel nenhum, mas o trabalho braçal era muito pior, tínhamos que levantar caixas muito pesadas e dar na mão do rapaz que organizava a carreta ou o caminhão e não tínhamos horário de janta a não ser que o serviço acabasse antes das 5, podíamos comprar lanche, mas só se comêssemos escondidos no banheiro, diante disso, me arrependi de ter ido e, no segundo dia, depois de duas horas de serviço, já pedi minha demissão novamente e fui embora.
No outro dia, voltei na empresa, usei a mesma carta de demissão, mudando só a data.
Estou muito triste de ter saído da empresa, era uma oportunidade muito boa que foi perdida, talvez eu seja muito mimado, ou vagabundo, não sei, mas eu me esforcei bastante e, espero que ao menos isso sirva de experiência para conviver com pessoas difíceis e aprender que a vida não é fácil.
Antevejo o nascimento de uma nova profissão: “Acompanhante de Empregado Novo Na Função, dando explicações sobre a mesma e preparando os empregados antigos para recebê – lo com o devido respeito que merece”
Em Tempo: Continuo Procurando Emprego... Se você souber de alguma coisa...