AS FLORES FICARAM NO ABISMO...

AS FLORES FICARAM NO ABISMO... Sinningia douglasii - Rainha-do-abismo

(Theo Padilha)

Uma história comovente mexeu com o silêncio da nossa pequena e pacata cidade. A inesperada morte de uma pessoa muito querida nos meios tavorenses deixou todos perplexos e assustados. Já havíamos chorado a morte de um grande amigo, quando a lúgubre figura outro nos tira ainda jovem. Estamos inconsoláveis diante de tudo isso. O casal vivia muito bem, ambos trabalhavam e não atrapalhavam ninguém.

− Que lindo sábado, Jonas! Vamos buscar as nossas orquídeas? – perguntou Magali para o seu marido.

− Hoje estou muito cansado, Magali! Fomos entregar a merenda a todas as escolas! Vamos deixar para amanhã? – respondeu-lhe Jonas, em frente a TV.

− Amanhã pode chover e não vai dar para escalar a pirambeira!

− Você já vendeu aquelas “rainhas- do- abismo”? – falou Jonas, se espreguiçando no sofá da sala e calçando a botina.

− Vendi! Só que ainda não recebi. Mas eu quero buscar mais, vamos?

− Então... Pegue para mim... A sacola, a corda e um boné!

− Isso mesmo. Então vamos logo, já são duas horas da tarde, tomara que existam bastantes flores na pirambeira!

− É... Vamos lá!

Com tudo certo, fecharam a casa e seguiram para a Pirambeira. Famosa serra onde a cidade de Joaquim Távora está incrustada. É um lugar muito lindo. Que fica bem perto de onde o casal morava. Atravessaram o asfalto entraram no pasto e foram descendo.

− Olha ali, Magali, uma corda. Quem será que a deixou aqui?

− Ela parece que foi arrebentada, Jonas!

− Foi mesmo. Acho que é de algum animal que fugiu!

− Parece muito velha, Jonas!

− Velha! Veja se você pode arrebentar! Está muito boa! Vou emendá-la na minha que está muito curta!... – respondeu o rapaz, esticando a corda com toda as suas forças.

E os dois felizes da vida seguiram para a sua pequena aventura sem saber o que lhes aguardava. Chegando à beira do precipício. Naquela tarde de sol.

− Já estou vendo uma lá embaixo!

− Cuidado aí, você pode escorregar. São só 100 metros de queda! Eu também estou vendo muitas flores! Passe-me a sacola com as cordas!

− Vou descer uns 40 metros, acho que agora a corda está dando uns 50 metros, com a emenda que fiz!

Magali procurou uma sombra, sonhando com o dinheiro que as plantas lhe dariam e ficou a esperar que Jonas fizesse o seu arriscado rapel.

Ele não viu que, a corda encontrada, começava um processo de partir fio por fio a cada descida no abismo. Tinha visto umas rainhas-do-abismo logo abaixo de seus pés. Deu uma balançada no corpo, tentando alcançá-las, pois estavam longe de suas mãos, quando o inesperado aconteceu. Sua corda se partiu quando nosso amigo estava a 40 metros e caiu como um pacote no vazio do abismo. Seu corpo foi sendo atirado sobre os ramos das árvores.

− Maaaaagaaaaallllllliiiiiii, me acuda!!!!!!!! – foi o único grito que deu.

− Meu Deus o que será que foi esse grito? – a mulher correu... Puxou a corda e nada, viu que ela estava arrebentada. E começou a gritar. O eco de seu grito espalhava-se por toda a pirambeira.

− Joooooonnnnnaaaasssss! Onde você está?

Um silêncio sepulcral tomou conta daquele ambiente. Magali correu em busca de socorro. Chegou à casa de Jair, que morava ali perto, e ligou para a polícia, e o soldado que estava no telefone 190, pediu todos os detalhes, mas viu que nada podia fazer. Ligando imediatamente para os bombeiros de Santo Antonio da Platina.

Jonas jazia todo quebrado a alguns metros do fundo do abismo. Seu corpo ficara enroscado numa plataforma no meio da encosta. Mas ainda estava vivo e as pessoas que correram tentando ajudar ouviam o seu gemido. Os bombeiros demoraram a chegar.

Logo que chegaram dois soldados começaram o rapel. Tiveram que cortar muitos arbustos até chegar ao lugar onde Jonas estava. Imediatamente vieram outros bombeiros e começaram a içar o corpo de Jonas, ainda respirando.

Infelizmente Jonas não conseguiu chegar com vida ao hospital. Eram muitos os ferimentos. Foi sua última aventura. Jonas morreu. E suas flores ficaram no abismo à espera de outros aventureiros.

Joaquim Távora, 23 de setembro de 2011. Copyright by Theo Padilha©.

Theo Padilha
Enviado por Theo Padilha em 24/09/2011
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