O ¨Noticia Ruím¨
¨ O NOTÍCIA RUÍM ¨
Na década de setenta os vagões da ferrovia carioca incendiavam trilhos de Santa Cruz até Dom Pedro Segundo. Das cinco da manhã às dez todas as composições circulavam lotadas de passageiros. Na estação de Bangu a maioria do pessoal só embarcava no primeiro vagão do cinco e vinte. Superstição?… Hábito?… Nada disso! Essa predileção se devia a um tal passageiro conhecido apenas como ¨o notícia ruím¨. Onde ele embarcava ninguém sabia. Sua voz tétrica e rachada narrava os mais trágicos fatos da humanidade. Pelo motivo dos seus fãs serem maioria na estação de Bangu, daí em diante seus causos eram mais dramáticos.
Dizia ele: – A muié fragô u marídu cum ôtra, isperô us dois drumir e atiô fogo neles!
Os passageiros sofriam, mordiam lábios, se arrepiavam e no dia seguinte estavam todos ali de novo, no primeiro vagão do cinco e vinte. Em Madureira a voz da desgraça sumia. Escândalos sexuais, quedas de avião, crimes passionais e chacinas eram os temas preferidos do ¨ notícia ruím¨. Ele nunca deixou seus ouvintes na mão até que numa segunda feira ninguém o ouviu. Houve insatisfações. Veio a terça e nada. Na quarta feira o pessoal não suportou a ausência.
– Ô, noticia ruim, cadê ocê ? Indagavam uns.
– Se esse cara não piá até amanhã eu juro que mudo de vagão! Protestavam outros.
Finalmente, na quinta feira, o misterioso silêncio teve desfecho. Ninguém conhecia ¨o notícia ruim¨ em carne e osso, exceto os que viajavam ao lado dele.
_ Ei gentes, ele tá aqui ó, ¨o notícia ruim¨ tá na primeira página do jornal! Disse em voz alta um que sempre viajou ao seu lado. Todo o vagão se ouriçou e o que anunciou passou a ler o jornal em voz alta.
– Operário da construção civil é atropelado por ônibus desgovernado em frente à estação de Paciência!…
Todo o vagão engoliu em seco.
– Coitado do ¨notícia ruím¨, morreu estraçalhado nas ferragens do coletivo! Finalizou o leitor. Todos fizeram um minuto de silêncio e depois desse dia, na estação de Bangu, ninguém mais embarcou no primeiro vagão do cinco e vinte. FIM