AS RENOVAÇÕES 


        A religiosidade popular foi sempre uma das características do povo brejo-santense. As famílias tinham o costume de entronizar a imagem do Sagrado Coração de Jesus em suas residências como Rei e Senhor, por ocasião dos casamentos. 

        Anualmente, naquela data, era feita a renovação da entronização, com a presença de familiares e amigos. Este dia, especialmente nos sítios, era muito importante para a família e por isso era bem festejado. O festejo constava da reza, da janta, dos bolos e bebidas e da brincadeira que se arrastava noite à dentro, com a banda cabaçal executando maxixes, cocos e outros gêneros regionais. 

       Faziam-se presentes também os violeiros com seus repentes, cantando a natureza, as pessoas, os sentimentos, tudo enfim que fosse pedido, a partir de um mote.
Muitas vezes as rezas ou renovas como eram chamadas popularmente, se tornavam tradicionais e atraíam pessoas de toda redondeza, como era o caso da “renova de D. Maria Broco”, no Baixio, logo após o Cemitério. Sua fama ia longe. Durante todo o ano ela se preparava para o evento, cevando o porco e engordando os capões para serem comidos com arroz “muruin”. A fartura era grande. 

        A sala do Coração de Jesus, lugar de destaque da casa, era ornamentada impecavelmente: toalha bordada com as iniciais SCJ, jarro com flores de papéis coloridos, castiçais com velas brancas e as capelas de parede, abaixo ou ao lado das imagens do Sagrado Coração de Jesus e de Maria. 

        Era neste local, que ajoelhada numa almofada, a pessoa encarregada, o tirador de reza, conduzia as orações da renovação acompanhada por todos os presentes. As cantoras entoavam os benditos: A nós descei, Queremos Deus e Transbordas relvas de flores e o povo cantava junto, em coro. Encerrada a renova ou a reza todos aplaudiam o Sagrado Coração de Jesus com palmas, vivas, fogos e bombas. 

       Ao redor da casa, o terreno bem varrido ou a latada aguada era o ambiente reservado para a brincadeira. Esta era ocasião especial para reencontrar os compadres, selar novas amizades e arranjar namorados. À luz da lua ou do lampião de gás as pessoas se divertiam até o sol raiar.