Veredas do bem...
Você já parou pra pensar nos caminhos que você trilha no seu dia a dia? O que pensa do seu caminho? E do seu caminhar? Eduardo aprendeu desde cedo a policiar o seu caminho. O menino cresceu numa favela muito perigosa onde, como na maioria delas, o tráfico bomba. Tudo começa na família. O pai do garoto bebia muito e espancava sua mãe e seus cinco irmãos mais velhos. A mulher, cansada daquela vida, foge com os filhos e o único lugar onde encontra apoio é numa favela. O aluguel é mais barato e lá está protegida do marido. Pois acredite se eu falar que ele nunca foi atrás deles, casou de novo e arrumou outra família pra maltratar quando estivesse bêbado. Bom... Dona Cecília passou a viver de faxinas em casas de família pra sustentar seus seis filhos. Não foi fácil pra ela, mas tudo bem. Como trabalhava muito e não podia pagar alguém pra cuidar dos filhos, os mais velhos cuidavam dos mais novos. E como os meninos logo descobriram o caminho da rua, acabaram descobrindo o caminho do tráfico também. Dona Cecília não conseguiu evitar e passou a agir como se não soubesse de nada. Eduardo cresceu nesse contexto. Sua mãe sempre trazia livros que ganhava dos patrões. O menino adorava ver os desenhos daqueles livros e logo se interessou por saber o que ali estava escrito, assim, quando foi pra escola, aprendeu a ler e escrever bem rápido. Passou a se um leitor assíduo e leu todos os livros que sua mãe levou pra casa. Neles, viu que havia no mundo outras histórias que não envolviam a vida na favela nem no crime. Desejou essa vida pra si e decidiu que estudaria e tiraria sua família daquela vida. O menino sempre foi o melhor da escola. Sabe daqueles de vencer olimpíada de matemática e de física? Pois então... olimpíada de redação, etc. Nunca ficou em primeiro lugar, mas entre os lugares premiados, ele sempre tinha o seu espaço. Era o orgulho de professores e diretores. Tornou-se popular na escola; quem não queria sentar perto do CDF nos dias de prova? Loucura total! Eduardo tinha uma tristeza no seu interior. Cresceu na favela vendo seus melhores amigos morrerem em tiroteios ou assassinados pelos próprios traficantes. Ainda não sabia o que queria ser, mas o que não queria, isso estava bem claro na sua mente. Seus irmãos Almir, Edvaldo, Lucas, Mariana e João eram bem estranhos. O único que parecia gostar de Eduardo era o Edvaldo; esse conversava sobre tudo com o garoto, e se ele não entrou no trafico logo cedo, é porque Edvaldo sempre o poupou. Tinha uma amizade de verdadeiros irmãos. Com os outros já era bem diferente, principalmente com Lucas, que parecia odiá-lo, mesmo sem ele ter dado motivo. Bom, mas o Edvaldo não conseguiu segurar a corda por muito tempo. Eduardo agora já tinha dezessete anos e o chefe da biqueira, Toco, queria saber se o menino ia trabalhar pra comunidade ou ia ficar só vivendo do que ela dava sem nada fazer por ela. Momento crucial na vida do garoto. E os seus sonhos? E tudo o que planejou pra sua vida? Sua mãe? Ela nada podia fazer pelo menino. Estava velha e já não dominava sua casa. Revolta geral da família quando o jovem decide que não vai traficar. Toco deixa uma condição: ou trafica ou cai fora da favela. E aí? O menino aceita... o quê? Sai da favela. Foi morar embaixo de um viaduto. Que vida cruel é essa? Por que as pessoas querem fazer o bem, mas as circunstâncias parecem jogar as pessoas para o mal? Existe destino? As pessoas já nascem predestinadas para o mal? Para a pobreza? Antes de ser expulso da favela, Eduardo tinha começado a ajudar o Seu Zé, um pedreiro amigo de sua mãe. Quando o homem soube do acontecido, tentou dar um jeito de ajudar o rapaz. Seu Zé conhecia um cara chamado Agenor, que também era pedreiro e morava sozinho; por isso queria alguém pra ajudar no aluguel. Sendo assim, nosso jovem só ficou na rua duas semanas e depois teve um lar. Não era lá aqueles lares dos sonhos de qualquer pessoa, mas era melhor que a favela e o viaduto. Bom, o menino terminou a escola e prestou vestibular numa faculdade federal... e... é claro que passou, bem no fim da lista, mas passou. Bom, você já ouviu falar do Engenheiro Carlos Eduardo Fernão Rodrigues? Está ouvindo agora. Sonhos foram feitos pra serem realizados... por mais que as circunstancias sejam contrarias aquilo que você quer. Eduardo sentiu isso na pele. O vitorioso voltou a favela pra buscar sua família, mas com ele só veio a mãe e o irmão Edvaldo. Os outros ficaram e quando aparecem, só querem dinheiro emprestado... dinheiro emprestado e nada mais. Temos o opção de escolhermos o caminho no qual andaremos, mas as veredas do bem sempre são a melhor escola, por mais que durante o percurso muitas lágrimas rolem, elas se transformarão em gargalhadas no futuro...