Cuidado com o que se pede
Final de uma tarde de verão, tomávamos um bom vinho no terraço de um chalé lindo e aconchegante. Acompanhados de uma brisa que vinha com o cheiro de mar e o ruído das palhas de um coqueiral a nossa frente. A noite prometia, uma lua linda estava cada vez mais perto de nós. Na sala, canções de Kitaro embalavam nossos risos e brincadeiras, lembrávamos as coisas boas da vida e dos grandes músicos new age; falávamos nos detalhes de suas obras, e eu, bebia cada palavra daquele homem inteligente e de uma postura tão simples. Enrolados em lençóis protegendo-nos dos mosquitos de jardim, não queríamos sair da li. Brincávamos de fantasmas como se fossemos crianças, pouca luz que vinha de uma lâmpada acesa no final do corredor, sinalizava haver pessoas no local. A vista estava ficando cada vez mais linda. O hotel estava iluminado como se fosse um grande transatlântico, fruto da minha imaginação; estávamos vivendo um sonho de amor. Já se fazia muito tarde quando nos recolhemos, agora embalados pelo som de Aeoliah. Despertamos com o barulho da água lá fora, era o caseiro cuidando do jardim num dia lindo de sol. Avisei que iria fritar uns ovos com queijo, adoro ovos fritos. O pão quentinho e o leite esperavam a porta. Tomamos um leve café, com frutos e flores compondo a nossa mesa; janelão escancarado para sentirmos o cheiro de terra molhada que vinha do jardim, junto ao ruído das palhas e canto de pássaros, borboletas tantas que eu não conseguia contá-las, compunham um cenário maravilhoso. Era hora de pegarmos os acessórios e nos dirigirmos à praia. Como sempre, lá estou eu a sombra de um coqueiro, minha árvore predileta. Enquanto discorria as mil utilidades da mesma, ele ria e falava: você é uma elfa. Os elfos são seres mitológico que vivem nas árvores. Comecei a questionar porque será que esse lugar chama-se porto de galinhas, buscamos na memória e lembramo-nos da triste história sobre os navios negreiros. Um lugar tão lindo é difícil acreditar que fora cenário de tanta dor. De repente homens avançavam pela praia num bugre, nos chamando a atenção. Eram os bombeiros salva-vidas com as suas bandeiras vermelhas, paravam aqui e ali demarcando os pontos perigosos para os banhistas, enquanto o mar de um azul belíssimo e a areia de um branco ofuscante, brilhavam num lindo dia de sol.
Caminhei alguns passos, agora numa areia quente de um sol escaldante, retornei, após um desmaio. Alguém desesperadamente chamava o meu nome e sem nenhuma reação, apenas vendo um lindo azul a minha frente, totalmente alheia, fui recobrando a consciência. Poderia ser a imagem mental no momento de minha morte. Comentava sempre, que, se pudesse escolher o momento de minha partida seria exatamente assim. O socorro foi imediato, em poucas horas me submetia a um implante de marca-passo; enquanto estava sendo preparada para entrar no centro cirúrgico, o médico cantarolava my way, e isto me trouxe muita paz; enquanto aquele homem que antes me fazia rir, estava triste a me observar; por favor, não chore, você pode me enfraquecer, falava para aqueles olhos azuis da cor do mar, que me salvou a vida.