Um tempo no deserto.
Quando eu passava pelo vale da sombra da morte, isto é, para quem sabe estava no deserto, no deserto total de tudo, porém, sem saber que estava no deserto, não conhecia a luz de fato, como então vislumbrar a saída? Ainda assim, sonhava, ah como sonhava, e até proferia com a boca os sonhos, o que ainda queria muito fazer, olhava para as pessoas e comentava sobre o que ainda iria fazer? Como é possível, você está aqui num estado lastimável e ainda continua sonhando? Então há uma luz no fim do túnel, esperando para ser achada, esperando para ser tocada, aí eu pensava, verdade, como posso estar aqui dizendo que amanhã farei isso e farei aquilo, se nem ao menos consigo dar conta do dia de hoje? Uma confusão tremenda percorria todo o meu ser, estremecia porque é como se de repente me jogassem novamente na realidade, aí olhava em torno e não via nada, de novo todo o vazio, as coisas para serem sanadas, o dia para continuar, o serviço a esperar, as providencias a serem tomadas, as horas passam, tudo nos cobra, já um alí a exigir um olhar, um cuidar, e outro lá nem sequer deixando encaminhar esse cuidar, afinal bloqueia, atrapalha, transtorna e torna mais difícil o realizar, e o serviço, ah o serviço, esse então não pode esperar, exige, exige e lá a gente tem que estar, a cabeça tem que funcionar, tem que separar, tem que dar prioridade a um e esquecer o outro e assim vice e versa, o retornar o repousar as vezes nem sempre fácil e nem sempre pleno, fazendo o corpo a sentir um cansaço maior ainda, não apenas o cansaço da mente, mas o cansaço de tudo, a vontade de fugir, de sair correndo, mas, não pode, você tem que ficar, é responsável por tudo em que se comprometeu, colocou sua assinatura agora tem que levar adiante, tem que se reponsabilizar, tem que honrar todos os compromissos, tem que dar conta de todos eles, um a um tem que ter um pouco de você, divida-se, corra, planeje mas não muito, não dá tempo nem mesmo para o planejar, e o que dizer então do realizar? Mas, em fuga eu saia, saia e ia passear, ia vaguear com os meus pensamentos, tenho a plena certeza que um dia aqui será isso, começava então a visualizar o que desejava que fosse um dia, assim como o continuar e o não parar, também vou continuar imaginar e as coisas então hão de se encontrar!? Ei, é verdade, algumas coisas aconteceram assim comigo, foi só eu olhar pra luz do fim do túnel e tudo começou a clarear, até aquilo que imaginei em devaneios consegui frutificar, ah, mas não foi eu somente, a força, a luz que me conduz deu meios para realizar!.... Hoje vejo que tudo o que tem que acontecer na verdade, é somente a luz achar, encontrou ela, teus sonhos começam a realizar, saem do imaginário estar, para tomar a forma do realizar, algumas vezes em toda a jornada tive que abrir mão, tive que dispor, tive que apesar de sofrer, deixar pra trás, abdicar, e aí, quando menos esperava as coisas abdicadas voltavam e voltavam duplicadas, pensava como é possível isto? Atravessei as brasas com os pés descalços, senti as dores e senti até o fracasso, e agora, agora, passado este deserto encontrei o oásis!....