Pequeno conto de amor idealizado em tempos modernos
Era uma vez uma menina. A menina era uma princesa, e desejava muito achar um príncipe que correspondesse todo o amor que ela tinha para dar. O príncipe ideal seria de olhos e cabelos claros, porque ela tinha olhos e cabelos escuros. E assim era o seu desejo. Ela era apenas uma menina. Uma menina que buscava um príncipe e nada mais. O que faltasse viria com o tempo... o castelo, os bibelôs, os filhos.
Um belo dia, para a surpresa e felicidade da menina, ela conheceu um belo rapaz que correspondia a toda sua expectativa. Os olhos eram claros, o cabelo acompanhava a cor dos olhos, ele tinha uma pureza como a dela. Ele era o seu par perfeito.
Começaram a viver a fase que antecede ao namoro. Essa era a sua fase preferida. Ambos se identificaram rapidamente pelo gosto pela música. Não tardou, a princesa compôs uma música que era o retrato daquele amor que nascia no coração do futuro casal.
O namoro foi perfeito! Não havia uma só pessoa que desacreditasse daquele amor. Eles nasceram um para o outro! Era o que pensavam. Nunca houve tanta afinidade entre duas almas que se reencontravam. Porque aquilo só podia ser um reencontro de almas.
Daquele amor nasceram os filhos e a alegria se completava. Nasceu também o trabalho pela busca da espiritualidade e também nasceram os desencontros. Porque na vida nem tudo é encontro e afinidade. Algumas vezes, as vontades se diferiam e a vida é assim.
Das diferenças começou a surgir o silêncio. E do silêncio a introspecção. E começaram a mudar os desejos. O afastamento foi inevitável. mas como viviam uma vida harmoniosa, não foram capazes de notar o que esse afastamento podia causar à família.
Vinte e cinco anos se passaram nessa transformação de vida. Eles eram a imagem da perfeição para muitos, mas de fato viviam uma vida afastada e silenciosa. A princesa por várias vezes tentou reacender o que havia sido perdido com o tempo, o príncipe, por ser mais desligado, acomodou-se na vida sem brilho. Não havia brigas. Havia o silêncio.
Uma manhã, a princesa acordou, andou descalça pelo seu castelo, foi ao cômodo de cada filho, beijo-os com ternura, beijou também com ternura o companheiro de sua quase toda existência, olhou de novo seu castelo, arrumou as malas e foi-se numa carruagem com cavalos brancos.