O observador episódio III – Mundo de criança
Eu me encontrava na casa do meu tio. Estava na sala fresca e aconchegante relaxando enquanto assistia televisão. Estava na companhia de um parente um pouco distante, talvez um primo de alguns graus ou sei lá o que. Ele tem oito anos, é uma criança bem divertida e alegre. Gosto muito dele e encaro como um irmão.
Estávamos assistindo pica-pau em DVD e eu, apesar de não ligar muito para desenhos, até que estava dando umas gargalhadas junto com o garoto. O pica-pau sempre saía em vantagens nas cenas. Os coadjuvantes em todas às vezes fracassavam e eram as vítimas do personagem. Mas num dado momento o garoto, louco pelo pica-pau, pediu que eu voltasse a última cena. Não sabia onde estava o controle e o jovenzinho acabou sendo mais ligeiro do que eu. Pegou o controle e com suas próprias mãos voltou a parte desejada. Seus olhos brilhavam e seu sorriso era explícito. A cena que ele voltou era de um cachorro, vítima do pica-pau, que havia engolido sem querer um serrote e por isso tomava o seu formato no corpo. O cachorro se contorcia todo e, o garoto, dava risadas. Essas cenas na nossa vida em que jovenzinhos e crianças se divertem com as animações são aparentemente normais e até banais no dia a dia. Mas, se pararmos para pensar, como é bom ser criança. Elas não têm preocupações, acham graça em tudo e nos divertem muito. O garoto de que contei voltou acho que mais de dez vezes a mesma cena, sempre rindo e me mostrando. É claro que eu também entrei na dança e ri muito, mais pelo garoto do que pelo desenho.
A inocência da criança é um dos aspectos que me chama bastante a atenção. Enquanto elas são novas, o mundo é uma grande brincadeira, é um cenário aberto para aventuras com grandes heróis e inimigos onde sempre o mal é vencido. Mas a cada ano que passa, as interpretações mudam. Os garotos começam a perceber o verdadeiro significado das coisas. Começam a enxergar o mundo real de guerras, matança e violência. Enquanto brincavam de soldados heróis numa batalha, soldados de verdade morriam pelos seus países. Garotinhas que passavam horas brincando de bonecas e príncipe encantado, agora são alertadas e aconselhadas para se defender de maníacos e abusadores. O mundo que antes era feito de bonecas de plástico e enfeitados com bolas de futebol, agora vira um mar de possibilidades sanguinárias.
Infelizmente as coisas funcionam assim e nenhum ser humano tem o poder de mudar. Tudo o que nos resta é viver, desfrutar dos bons momentos, enfrentar os maus e rezar para que nada nos aconteça. Este episódio foi um ótimo momento para mim, assim também enquanto eu o escrevia e, espero que tenha sido uma ótima leitura para você.
Tiago Fernandes Rodrigues