O mundo

Volto pra casa cheio de uma certa embriaguez moral. Embriaguez essa que amanhã se transformará numa ressaca. Enquanto ando pelas ruas, me questiono sobre a finalidade deste mundo e o porquê dessas pessoas me olharem sem esclarecer se querem me incluir ou me afastar no mundo delas. Quando a ressaca chega, percebo o quanto as odeio. Talvez, seja por isso que me isolo no topo da torre mais alta do mais longínquo castelo. Eu não quero fazer parte disso. Pondero sobre todos aqueles que quiseram me destruir e penso se eles de fato o fizeram, ou se me trouxeram uma benção, e me tornaram mais forte que nunca, por saber que não sou como eles.

A vontade de gritar aumenta, mas eu não grito. Eu sei que ninguém vai ouvir. E mesmo que ouçam, irão ignorar. Vão continuar vivendo, como robôs, dentro da sua enorme caverna que eles chamam de realidade. Às vezes me questiono se o problema se resolveria com uma bala na minha têmpora. Ou milhões delas nas têmporas daqueles que já estão mortos por dentro.

Às vezes sinto que tenho me tornado exatamente aquilo que eu tinha medo de me tornar, e não sei se isso é, de fato, bom ou ruim. O que me mantém vivo é saber que ainda existe felicidade nas pequenas coisas. Um dia agradável vale mais do que dinheiro no banco. Uma boa lição vale mais do que ter as mais belas (e acéfalas) mulheres do mundo aos seus pés. O problema é que nos impomos de ter essas coisas, e por isso, de noite enchemos a cara, para drenar nossos corações e nossas almas.

Me questiono porque ainda saio nas ruas para esbarrar com robôs que não conseguem olhar para os lados, e chego a conclusão que eles não fazem idéia do chão em que pisam, da história que paira no ar, desde o tempo em que a memória ainda não existia. Talvez se eles soubessem, não caminhariam em linha reta, mas volta e meia andariam em círculos, para apreciar aquilo que os rodeia, para enxergarem, e para serem enxergados.

Baltho Andarilho
Enviado por Baltho Andarilho em 26/04/2011
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