O observador episódio II-A rosa solitária
Passava no meio das pessoas dentro do transporte público. Era o meu ponto eu precisava sair. Era licença pra lá e licença pra cá. Estagiário realmente é um lutador. Desci no meu destino e segui para o caminho da escola.
Caminhava e olhava para as faces humanas. Todas pálidas, exaustas com a semana. Andavam mecanicamente, sem prazer e sem gosto, apenas com o mínimo da sanidade. Estava relativamente fresco o ambiente e o pouco suor que escorria no meu rosto apenas cumpria o seu papel. Passei a minha mão na testa e inclinando minha cabeça deparei-me com uma cena irônica. Em meios aos concretos estava ela, uma pequena rosa em vaso público pronta para desabrochar.
Só havia ela, apenas um corpo insignificante em meio ao caos claustrofóbico da civilização. Implorava piedade em suas folhas. Suas pétalas expressavam o limite de sua resistência. Parecia que implorava aos céus uma garoa, ao menos uma garoa.
As pessoas, meu Deus, passavam retas e ignoravam a natureza alheia. Contentavam-se com o amargo CO2 da atmosfera e a sufocante paisagem dura isenta de vida. A terra da pobre rosa estava infértil, seca como o clima. Tudo estava contra para sua sobrevivência.
Era lastimável a situação. Tudo passava em câmera lenta. Via a rosa aparecer e desaparecer à medida que cada pessoa passava. Sua tonalidade vermelha estava escura e um pouco murcha. Seu caule estava fraco. Apesar da sua expressão ávida para viver, ela não tinha chances para se desenvolver.
Natureza e concreto não combinam, são antagônicos e sem harmonia. Meus sentimentos aquela rosa que lutava pela vida, a rosa solitária que agora descansa em paz.
Tiago Fernandes Rodrigues