Porta Retratos - Parte II
Retrato De Um Tal Almir Guimarães Da Rosa
A família Guimarães da Rosa descendia de um antigo barão do café da cidade de São Paulo. Nos anos setenta, o ainda jovem Mauro Guimarães da Rosa veio para o Rio de Janeiro com sua herança e investiu tudo o que tinha em estabelecimentos de vários tipos. Casou-se, teve um filho (Almir). Os investimentos de Mauro não foram muito bons afinal... Ele perdeu grande parte da fortuna, passando a morar num subúrbio da Zona Norte da cidade maravilhosa, mas no geral não ficou triste. Possuía a casa, uma venda bastante procurada no bairro, o filho estudava e queria ser doutor advogado... Não era mais rico, mas vivia em condições médias e nada faltava.
O jovem Almir Guimarães da Rosa não era tão satisfeito assim com o que tinha. Achava que o pai havia feito a maior burrice do mundo ao deixar São Paulo, capital das finanças pra vir pro Rio, terra da marola... Diferente do pai, o rapaz achava que a vida não valeria a pena se o homem não fosse capaz de gerar seu conforto e, para Almir, conforto estava longe de viver enfurnado naquele subúrbio; naquela vida média...
Almir cresceu em tamanho, beleza, inteligência e esforço. Aos vinte e seis se formou em Direito e já trabalhava pra conquistar investimentos para uma empresa própria. Resolveu que ficaria no Rio de Janeiro mesmo, apesar da vontade de ir trabalhar em São Paulo. Fez o que todo homem empreendedor faria: abriu um negócio que dá dinheiro em terras de marola.
Clinicas de estética e Spas, centenas de atendimentos por mês e muito dinheiro em seguida. Almir se tornou dono de um império da beleza. Estava vivendo do jeito que queria. Tinha trinta anos, uma cobertura no Leblon, um Nissan de cento e cinqüenta mil reais e muitas, muitas mulheres.
Ele vinha de uma festa de inauguração de seu novo Spa na Serra de Petrópolis. Quando chegou ao Rio, a caminho de casa, já eram quase cinco da manhã. A loira sentada no banco do carona ria como uma gralha e se Almir soubesse o seu nome pediria pra ela calar a boca, mas em poucas horas ela estaria tomando um táxi pra casa mesmo... O Nissan corria veloz pela pista e, bêbado que estava, Almir não teve reflexo de desviar de um daqueles favelados que carregam aquele carro de mão como se fossem mulas. Uma porrada só e o homem caiu desacordado. Almir parou e chamou o resgate.
Dias depois veio a intimação: João da Silva contra Almir Guimarães Rosa. É claro que o favelado desgraçado só poderia estar brincando! Isso é pra aprender a nunca mais prestar socorro! Será que o safado desconfiava quanto custou pra concertar o estrago que ele fez no carro?
Não foi demorado, apesar dos os padrões da justiça brasileira. O homem atropelado ficou paraplégico e perdeu o único modo que tinha de ganhar a vida. As testemunhas do resgate e da polícia confirmaram a embriagues de Almir. Até a safada da... Como era mesmo o nome da loira? A porra da mídia resolveu se meter também. Oitocentos mil reais de indenização. Só podia ser brincadeira! Será que eles achavam que dinheiro crescia em árvores? Ou ele ia pedir um empréstimo ou teria de vender umas três clínicas pra levantar a grana! Claro que não vendeu as clínicas, seria muito pior recuperar o dinheiro depois. Preferiu pegar no banco e pagou o infeliz.
Os acionistas das empresas não acharam conveniente ter um presidente tão irresponsável e fizeram uma jogada jurídica pra tomar as empresas. Almir perdeu sua fonte de dinheiro. Vendeu tudo pra quitar o empréstimo.
Morreu vinte anos depois. De infarto agudo do miocárdio. Já não possuía uma casa, um trabalho, uma família.