As Sete Mortes de Atma - O Peregrino
Um jovem denominado Atma – nome este que significa: ‘Ser Real’ –, em seu aposento, conclui ter vivido sua vida através do “falso agir”, movido pelo ego. Acreditou, até o momento, que era seu corpo, seu trabalho, suas propriedades e seus conhecimentos adquiridos nas instituições terrenas, cuja base é a mente racional, até que, em seu limite, resta-lhe um exame apaixonado de consciência, em lugar da prece cotidiana que faz antes de dormir. Fica desnorteado por descobrir que seu EU é condicionado e falso, e que tudo o que acredita não passa de convenções sociais, que se modificam de tempos em tempos. Descobre que não é sequer o que sente, pois suas emoções surgem com base em conceitos aprendidos em sua vida inteira e nada mais.
Atma medita sobre o fato de morrer, mas conclui ter morrido muitas vezes e, em as todas suas mortes, recebeu momentâneas recompensas, como a simpatia e aprovação dos outros, até ocorrer o inevitável fracasso, seguido de inexorável desaprovação, inclusive de si mesmo. Além das batalhas que virão pela frente, necessita morrer as sete mortes, dissipando as ilusões de cada uma delas. Seu EU, em sintonia com o universo, faz-lhe lembrar cada uma dessas mortes e, uma vez que morria, em cada uma delas o significado de seu nome também renascia. A primeira morte foi de seu Eu Divino, ao exercer atividades para as quais não tinha aptidão, nem amor, nem competência e nem vontade necessária. Isto lhe rendeu simpatia alheia pela ausência de seu sonho (considerado por muitos uma ilusão), e apoio dos que no começo desta morte lhe ajudaram, porém o tempo de cada coisa se extinguiu, e o fracasso se revelou mais uma vez. Nem seus conselheiros, os quais não tinham sonhos nem para si, nem os amigos estavam ao seu lado e ninguém que sonhava largou o próprio sonho para seguir o seu. Sua consciência lhe diz que viveu apenas avaliando seu valor com base no valor de seu próximo, negando seu verdadeiro SER.
Pela segunda vez, morreu. Agora, por culpa, acreditando que se realizasse algo seu, estaria sendo egoísta, pelo fato de estar ausente e ocupado com o bom combate, e porque existiam muitas mazelas em sua cidade para dividir com os companheiros... E então ocorre a terceira morte... Assim, morre por mérito, ao acreditar ser indigno de realização. Cometera erros e causara sofrimento para algumas pessoas. Por isso, sempre que conquistava algo, pensava logo nas pessoas que magoou, pensava que outros eram melhores e, portanto, mais dignos daquilo que recebera. Era mais fácil sentir-se não merecedor, apesar do preço pago. Recomeçar e seguir em frente, corrigindo erros e, com fé, plantando acertos exigia dele mais ânimo e coragem e, então, quando estava prestes a cruzar sua linha de chegada, fracassou e, para amenizar sua dor, morre pela quarta vez. Porém agora resolvera morrer por orgulho. Sentia-se o mais honesto, o mais digno e o melhor de todos. Estava apenas focado em chegar ao podium para provar para os que não acreditavam no seu mérito que estavam errados. Para se vingar dos usurpadores de seu trono e inimigos atraídos por ele mesmo e para colher os frutos, aplausos e lisonjas de que tanto carecia nesta morte. Entorpecido de orgulho, teve o que não queria com o dinheiro que não lhe pertencia, para mostrar aos menos queridos por ele, aquilo que não era. Nos detalhes e imprevistos em seu caminho se perdeu... Pagou muito e recebeu pouco, apenas por querer a suprema glória antes de resolver pequenas coisas simples. O fracasso foi eminente, levando-o a morrer pela quinta vez. Agora como vítima.
Atribuiu todo o fatídico fracasso aos elementos externos. Queixava-se de que as pessoas não davam o devido valor por seu ofício e, no mais, eram pobres, portanto não podiam pagá-lo – e quem tinha o dinheiro, parecia-lhe hostil. As circunstâncias eram desfavoráveis para seu ramo. Sua idade e sua localização eram irregulares e seus pais queriam que ele fosse peregrino de uma ideologia hipócrita. Sentia que precisaria de apoio e incentivo, e o mundo lhe fora injusto. Culpava a pobreza do mundo, e por esta não poderia fazer nada, mas se fazia de cego para sua pobreza interior, provinda do ego, e contra essa, sim, poderia fazer algo. No entanto, se considerava vítima. Sendo vítima, nada poderia fazer. Era apenas vítima!
Decide morrer pelo muito agir; acreditou que agindo sempre estaria mostrando às pessoas que estava entretido e era responsável e sério, por ser ocupado demais. Mesmo fazendo uma série de coisas desnecessárias para a ocasião, e até imprudentes, sentia-se remido por responder que estava com pressa e ocupado quando lhe perguntavam se estaria fazendo algo nos próximos dias. Porém, o preço era alto. Após ouvirem suas explicações de que estava ocupado, respondiam para si mesmas: “Que pena! Eu tinha o que ele estava procurando e ainda mais, porém ele está sem interesse agora”. Acreditou que se ausentar momentaneamente do combate para fazer um balanço e colocar sua vida em ordem, descansar e procurar novas e melhores oportunidades, seria taxado de vagabundo e inútil. Esqueceu-se, porém, que toda a bravura, força e coragem da sua mão eram sem qualquer valor para destroçar uma rocha. Assim, negou o descanso e meditação que, como recompensa, lhe dariam a ideia de buscar a ajuda do bom e aliado martelo. Coisas simples, mas que, por diversas vezes, não fazemos na prática. Agiu precipitadamente. Disse sim ao ocioso ao fazer a tarefa alheia. Disse sim ao vilão que o levou ao abismo. Disse sim ao impostor, para lhe ser educado, da mesma forma que disse sim aos impostores de seu trono, o qual lhe foi dado por direito, por ser príncipe dessa terra. Agiu de modo profano quando acreditou que o caminho certo seria perda de tempo, visto que outros conseguiram de modo mais “fácil”, sem percorrer as batalhas do autoconhecimento. Esqueceu que o caminho da trapaça dá vitórias temporárias e o caminho do EU Divino dá a vitória eterna.
Por fim, morreu por inércia, ao perceber que todo o seu agir era inútil, e resolveu dizer não para a vida e, assim, ficar isento de culpa ao concluir que todo o agir era precipitado e profano. Esqueceu que a virtude de um nobre guerreiro não está no falso agir (por amor ao ego) e nem no não agir e desonerar-se de culpas. Está no reto-agir (por amor ao EU Divino), embora através do Ego.
Exausto e ciente que necessitava de uma noite de sono para aguentar a jornada do dia seguinte, adormece, ainda com medo, mas com a certeza de que o real peregrino é aquele que, mesmo consciente de suas mortes, nutre a esperança de evoluir, ao invés de entregar a honra da vitória ao ego e aos que conspiram em seu caminho. Quando temos consciência de nossas mortes e aprendemos com a dor de cada uma delas, estamos no caminho certo para o renascimento.