a mesma coisa de sempre
Depois de um tempo você se acostuma... a mediocridade reinante, a vizinha falando da novela, teu pai sentado olhando bunda de mulata enquanto tua mãe sorri naquela pasmaceira de sempre, escrever nessa joça de laptop que se você não cuida apaga tudo que escreveu... adaptação... o segredo é adaptar-se e sobreviver... ser falso, ser conveniente, ser diplomata e sobreviver... dar um sorriso pro chefe quando a vontade é esganá-lo, responder gentilmente quando a tua vontade é dizer aí, te perguntei alguma coisa? No futuro você se acostuma, você se acomoda, você para de reclamar e o que era gritos de protesto se transformam em resmungos quase inaudíveis e você se torna velho, meu... depois de um tempo você vai ver que só te elogiam e só te entendem quando se identificam, que todos aqui somos poços de egocentrismo sem fundo. Que se você quer ganhar alguém o melhor a fazer é sorrir, é concordar sorrindo com o que ela diz mesmo sendo a maior das idiotices. É sorrir pra loira mesmo ela sendo uma demente só porque você sabe que se sorrir um pouco mais é até capaz de levar pra cama esse ser ignóbil que tá aí falando algo incongruente ao qual você inevitavelmente responde com aceno de cabeça e sorrisos, pensando na melhor maneira de levá-la, de acompanhá-la à alcova, enquanto o sorriso estrondoso ressoa com certo eco irritante você não consegue ver mais nada a não ser os bicos de seu seio arfante e a pausa que ela faz enquanto dispara a metralhadora giratória do cotidiano dela, cheio de fantasias de maquiagem e de idas na estética pra fazer as unhas e você ali, ó vida cruel, sem entender patavina, apenas prevê o cheiro no cangote e o derrubar suave na sua cama... o pior mesmo é estar do outro lado e quando você começa a falar do herman hesse, das flores do mal ou de alguma passagem impressionante do macbeth ver estampado um ponto de interrogação no rosto do pobre acéfalo que ali se encontra perscrutando a sua respiração e aquela tiradinha de cabelo dos olhos, gesto tão comum que você faz com certa frequência e que ele ali tá pensando que você tá é fazendo “chalme’. Pior mesmo é perguntar pra sua mãe se a bunda da mulata de fora ali pendente e balouçante faz parte dos adereços da fantasia e ela te olhar com cara de paisagem e responder com um nossa como tu é chata... claro porque o mais fácil, o menos doloroso, é não pensar, não agir, não raciocinar, obinubilado pelos sentidos que são a coisa mais rasa que se pode ter na vida e no entanto é o que domina a humanidade. O comer, dormir, acasalar e defender-se. Os cachorros homens pela rua cheirando tudo que é rabo. Enquanto eu aqui brigo com a tecnologia, irritada com a capacidade vapt vupt de apagar meus textos eu lembro que abandonei o papel porque ele não acompanhava a minha verborragia com tanta presteza e amo odeio essa maldita máquina. Amo odeio o online, amo odeio o fast food, amo odeio o in tempo reale, amo odeio o chapolim colorado gritando na minha tela e os mais de mil canais que tem essa bosta e a total incapacidade de me despertar qualquer interesse que não seja o meu próprio mundo interno. Amo odeio o comentário totalmente dispensável de alguém que veio só me contar que ganhou uma poesia de um poeta do recanto, o que achou do meu texto que condiz exclusivamente com o que ela faz da vida inútil dela e se assina minha bruxinha e se despede com beijos iluminados... ¬¬ Muita vontade de dizer pra isso tudo por favor go to hell...