Perdi tudo... Menos a vontade de viver
2001
Tânia estava em casa com seus dois filhos. Era tarde, seu marido devia estar em casa, mas por alguma razão ele atrasara. Seus dois filhos, Rui e Pedro estavam na sala, assistindo televisão. Tânia achou bom ligar para o marido e saber por onde ele andava. Para sua surpresa, quem atendeu o telefone celular foi um homem que não era nem amigo, nem parente de Carlos, seu marido. Era um bombeiro militar.
- Eu ainda não entendi. O que foi que aconteceu com meu marido?
- Ele sofreu um grave acidente, infelizmente não sofreu aos ferimentos e faleceu a caminho do hospital. Eu sinto muito.
Tânia não sabia o que era pior. Receber a notícia por telefone, ou imaginar sua vida sem o Carlos. Ela desligou o telefone e correu para a sala.
- Eu tenho que sair. Vocês fiquem aí e não mexam em nada. Rui, você é o mais velho cuida do teu irmão.
- Nós estamos com fome. - Resmungaram os dois ao mesmo tempo.
- Rui prepara alguma coisa para vocês. Há pão e presunto lá dentro.
Tânia beijou seus dois filhos e saiu á procura de mais informações. Ela precisavaver Carlos. Queria saber o que havia acontecido exatamente. No caminho, Tânia percebeu que a chuva que até então era fina, começava a cair com mais intensidade. Ela dirigiu cautelosamente até o hospital indicado pelo bombeiro. Chegando lá, Tânia pode verificar com seus olhos. Carlos estava mesmo morto e não havia nada que ninguém pudesse fazer para trazê-lo de volta. A dor que ela sentiu naquele momento foi incrível, maior e mais forte do que qualquer outra coisa que ela já sentira em toda a sua vida.
Enquanto isso, em casa os dois meninos tentavam aprontar alguma coisa para comer.
- Pão e presunto. Isso deve ser o suficiente para fazer um sanduiche. - Disse Rui.
- Nós podíamos fazer um chocolate quente.É fácil. Eu já vi a mamãe fazendo. - Acrescentou Pedro, animado. - É só esquentar o leite numa panela e colocar o chocolate.
Rui estava relutante. Não gostava de mexer no fogão e mais, sua mãe sempre lhe dissera para não mexer no fogão quando ela não estivesse por perto. No entanto, seu irmão não parava de insistir e ele mesmo também estava com vontade de tomar um chocolate quente. Ele pegou uma panela e o leite. Ligou a chama do fogão e pôs a panela na chama. Durante uma brincadeira, entre os dois irmãos, um pano de pratos caiu sobre o fogão bem junto à chama. O pano logo começou a pegar fogo. Rui tentou apagar o fogo, mas não conseguiu. Sua mão chegou perto do pano e ele conseguiu apanhá-lo, mas como a chama no pano era intensa, ele tentou bater com o pano na pia. Nisso, o pano soltou-se da sua mão e foi de encontro à cortina de pano. Logo havia muitas chamas na cozinha. Os armários de madeira, logo esquentaram e começaram a arder. Os dois meninos sairam da casa. Os vizinhos, logo perceberam a fumaça e o fogo, mas não havia muito que pudessem fazer. Os bombeiros foram acionados, mas a localidade era de difícil acesso e portanto demorariam a chegar.
Rui e Pedro foram acolhidos por vizinhos. Alguns dos vizinhos tentaram apagar o fogo com mangueiras e baldes de água, mas as chamas eram grandes de mais. Em poucos minutos a casa inteira estava pegando fogo.
Tânia recebeu uma ligação de uma amiga e vizinha.
- Sua casa está pegando fogo amiga. Venha logo para cá.
- E os meus filhos. Como eles estão?
- Estão bem, mas corre ou pode ser tarde demais.
Tânia estava em estado de choque. Ela pulou no carro e voltou para casa. Diante dos seus olhos, nada além de dor e tristeza. Primeiro seu marido, agora seus filhos e sua casa. O que estava acontecendo? Ela chegou ao local e não conseguia acreditar no que via. Havia dois caminhões de bombeiros apagando as chamas que haviam se espelhado por toda a casa. O que um dia fora uma linda casa de madeira, agora estava reduzida em cinzas. Suas pernas cederam ante o peso do seu corpo. As lágrimas escorriam dos seus olhos como fios de água em uma nascente. A tristeza tomou conta do seu corpo. O desespero assumiu o controle.
Rui e Pedro abraçaram sua mãe e pediram desculpa. Tânia não podia culpá-los. Jamais deveria tê-los deixado em casa sozinhos.
Na manhã seguinte, Tânia voltou à sua antiga moradia. Não havia mais nada ali. Tudo que ela conquistara ao lado do marido, o fogo levou. Apenas cinzas e destroços demarcavam o que antes era um lar feliz.
Graças á ajuda de alguns amigos e vizinhos, Tânia conseguiu outra casa não muito longe dali para morar com seus filhos. Durante o enterro de Carlos, Tânia não aguentou e desmaiou. Ela foi levada para o hospital onde foi medicada e sedada. Na manhã seguinte, os médicos deram-lhe uma notícia que ela jamais podia imaginar ser possível.
- Você está grávida.
Tânia estava em estado de choque. Isso não podia ser verdade. Não naquele momento. Ela não tinha condições para cuidar de mais uma criança. Não sozinha.
As duas semanas que se seguiram foram de muita luta e superação. Os meninos se comportavam como nunca e tudo que a Tânia pedia a Deus era um trabalho decente para ela poder honrar com seus compromissos. Tânia era uma ótima professora e só parara de trabalhar por que Carlos pedira, mas agora as coisas haviam mudado e ela precisava entrar no mercado de trabalho e logo. A oportunidade surgiu dias depois quando o diretor de uma escola a convidou para trabalhar com eles. Ela aceitou.
Suas aulas eram muito divertids e os alunos amavam a professora que tinham. Os primeiros seis meses foram difíceis para Tânia, que teve que se virar sozinha e cuidar de tudo sem a ajuda do marido. Mas como Deus não fecha uma porta sem abrir outra, Tânia conheceu um homem que se dispôs a ajudá-la e a dividir as terefas com ela.
Seu nome era Dércio. Um professor de matemática que acabara de se mudar para a cidade. Ele se encantou por Tânia e propôs que morassem juntos. Tânia não pode negar que sentiu atração por Dércio desde o primeiro momento, mas não podia forçá-lo a aceitar dois filhos e mais um que estava a caminho. No entanto, Dércio não desistiu e conseguiu depois de muito esforço convencê-la a aceitar. Os três se mudaram para a casa de Dércio.
Começava ali, uma nova vida para Tânia e seus três filhos.