Mentes inocentes

Apesar de a rotina soar como um porre para muitas pessoas, para o jovem observador é o paraíso das reflexões. Sim, um lugar para meditar e tirar conclusões das incontáveis possibilidades de situações. Às vezes observações alegres, às vezes lastimáveis, mas todas têm o seu valor.

O jovem voltava para casa, depois de um dia normal na escola. Subiu no ônibus e sentou-se. Seus olhos cobriam todo o ponto, enquanto o ônibus não andava. Viu pessoas com ares impacientes a espera do transporte, outras indiferentes e poucas expressando um sorriso alegre no rosto. Era de se esperar. É cômodo para os seres humanos não tolerar, é fácil reclamar e muito melhor achar defeitos em tudo. Realmente, manter o controle nas situações do dia a dia é para poucas pessoas.

O jovem olhava e tentava captar o máximo de reações humanas diante da demora do ônibus. O calor e o ar seco pioravam a situação. A poluição contribuía mais para a impaciência. E a fumaça do cigarro que um senhor expelia era intolerável para algumas pessoas, que reagiram com caras sérias e mudando de lugar.

O garoto percebia que a poluição sonora também era de irritar alguns. Enquanto um carro passava fazendo propaganda política no mais alto volume, alguns rostos pareciam estar por um fio, segurando para não dar um belo de um xingo.

O jovem gostava de analisar e tirar conclusões psicológicas, era o que o motivava. Expressou um grande sorriso quando lembrou que estava numa segunda-feira e que na sexta as reações foram bem diferentes.

Tudo aconteceu muito rápido. O ônibus começava a andar depois de pegar uma roda de pessoas. Os últimos relances do jovem observador foram marcados por um susto a sua mente interpretativa.

Uma mãe passava, levando seu filho pequeno de mãos dadas. O pequenino, todo confuso seguia a mãe, que se desviava da multidão. A princípio parecia uma cena bonita e encantadora de uma família, até o jovem perceber a outra mãozinha do garoto. Ela segurava uma criatura vermelha, cor de sangue, com chifres e grandes espinhas espalhadas no braço. Tinha um sorriso irônico e satânico, sua orelhas eram pontudas e assustadoras. O que o menino segurava era um boneco. Uma réplica do mal, um demônio em forma de brinquedo. O jovem observador virava o pescoço enquanto o ônibus começava a andar, tentando constatar que o que vira era verdade.

Pobres mentes ingênuas. Pobres mentes inocentes, influenciadas por personagens que retratam a essência da destruição e da maldade. Que empresas são essas que destroem mentes em desenvolvimento? Que tipo de indústrias infantis são essas?

Como? O jovem se perguntava, como uma mãe permite que seu próprio filho leve consigo um coisa que nem se pode chamar de brinquedo?

No caminho de casa essa pergunta o rodeava na mente.

Tiago TiAgO
Enviado por Tiago TiAgO em 28/11/2010
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