MEU FILHO ARTUR
Esse assunto tem um aparato tão grande de situações que talvez esse site não comporte as asneiras do ser humano. Talvez não consiga descrevê-los porque é de uma irrelevância tão grande que meus dedos endurecem como se esse teclado fosse uma mulher que não estivesse no cio.
Com meus cinqüenta e quatro anos, tenho um filho de quatro, de nome Artur. Sei que todo mundo tem filhos, que na maioria das vezes os adoram como se fossem o travesseiro na hora da morte. Mas o tal de Artur...
Sou testemunha que meu espelho me falou quando era adolescente que meus olhos não tinham brilho. Sou testemunha de alguma mulher me pedir para fazer a tal da vasectomia! Vasectomia. Por si só uma calamidade. Ora moremos num país sem educação, principalmente na procriação; onde políticos acham votos num tal de aborto; porque não valorizarmos a vida! Vida sim!
Como é que pode um sistema político ou capitalista nos coibir de nossos instintos naturais? Se a rede pública de saúde está “inchada” de mulheres parindo é porque o sistema de exploração capitalista está errado. Na época da colonização portuguesa, pai que tivesse menos de dez filhos era um frouxo. Hoje não, o “sistema” nos quer com um ou dois filhos, no máximo. Como poderia viver sem meus seis filhos? Já dizia Vinícius: “Se não o temos, como sabemos?”
E eu a imaginar que a gente só tem uma vida. Uma vidinha só. Os filhos crescem e somem pelo mundo atrás de sua própria vida. E a minha vida cada vez mais curta, ladeira abaixo, como se fosse um precipício. Mas por enquanto tenho o Artur por perto... Imagine se tivesse feito a tal da Vasectomia?
JOSÉ EDUARDO ANTUNES