Em busca de um talvez

As malas já estavam prontas e dentro delas tudo o que tinha. O pouco que tinha.

O dinheiro, emprestado de familiares, estava escondido.

Dentro de pouco tempo sua vida mudaria, se para melhor ou para pior, não sabia.

Medo. Dúvidas. Insegurança. Só ele sabia o que estava sentindo, mas, todos esses sentimentos, guardava para si, pois, não queria que se preocupassem com ele.

Procurava manter a calma, a serenidade e principalmente, a segurança, afinal, era o homem da família, o responsável, o progenitor.

Uma coisa ele tinha de sobra, era a fé, fé em Deus, levava consigo a imagem de Nossa Senhora e de Santo Expedito, o santo das causas impossíveis.

Queria sair dali para ter uma vida melhor no sul.

Para ter uma vida mais regrada, longe da miséria que conhecia. Longe da miséria que vivia.

A separação que estava por vir, era o que mais lhe angustiava.

Nascera e crescera ali.

Boa ou ruim era a única vida que conhecia, no entanto, logo, tudo o que conhecia ficaria para traz.

Seus amigos, sua família.

Foi até a cozinha e em silêncio, pôs-se a observar sua mãe nos afazeres, de repente, sentiu os olhos umedecerem e o coração a bater mais rápido e forte, talvez, sentiu, esta fosse a última vez que a visse.

Sem dizer nada foi até ela e a abraçou forte, intensamente, neste momento segurou as lágrimas, que insistiam em desabrocharem dos seus olhos.

Em silêncio saiu, dirigindo-se ao quarto, onde, estava a maior razão de sua angústia e também de sua decisão em deixar a cidade. Lá encontrou sua esposa, em silêncio, abraçou-a e beijou-a apaixonadamente, foi até o berço e abençoou seu filho com um sinal da cruz na testa enquanto ele dormia tranquilamente o sono dos anjos, sem saber o que estava por vir.

Sem nada a dizer, pegou suas coisas e saiu.

No caminho, desaba, chora feito uma criança, sente uma tremenda dor no peito como se algo rasgasse seu coração sem dó, tampouco piedade.

Sabe que seu futuro, agora, é incerto.

Leva consigo, além da dor por deixar sua família, somente sonhos e esperança.

A esperança de uma vida melhor, que talvez, nunca virá.

Marc Souz
Enviado por Marc Souz em 04/11/2010
Código do texto: T2596087
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