TIA MILINHA

- Minha irmã! Há quanto tempo você não aparece aqui em Governador Valadares!

- Aproveitei meu neto, que veio a serviço, e vim com ele.

- Não te vejo desde que seu marido morreu. E a sua saúde, como vai?

- Minha saúde é de ferro e o meu coração é de menina. E você, Judith, como está?

- Não posso dizer o mesmo, Milinha. Tenho artrite, bursite, catarata, dor de cabeça, enxaqueca...

- Por favor, não vá até o fim do alfabeto. Pelo andar da carruagem, você só vai pular a letra m, de menstruação.

Ah... Tive uma idéia. Já que estou aqui em sua casa, vamos visitar o nosso mano Dionísio, em Colatina?

-Vamos. Nós já estamos, mesmo, “pra lá de Bagdá”, não é mesmo?

-É deveras. Somos pedrinhas de dominó em fileirinha. E quando começarmos a cair, será em série.

No outro dia, as irmãs pegaram o trem de ferro e partiram para o Espírito Santo.

Assim que se sentaram.

-Vovó, a senhora está na minha poltrona.

-Bom dia, jovem!

-Eu disse que este lugar é meu.

- Obrigadinha! Você é um anjo!

-Não entendeu? Eu estava sentado aqui e, enquanto fui ao banheiro, a senhora tomou o meu lugar.

- Muito agradecida! Você é um menino de ouro!

- Por favor, quer dar licença?

-Você é tão bonzinho! Sabia que você vai para o céu?

Cansado de pelejar com a idosa, o rapaz foi para o outro vagão.

Ao chegarem em Colatina exaustas, ansiosas para descerem do trem, foram logo para a porta da saída.

Lá, encontraram o dono da poltrona que, preocupado com a idade avançada delas, gritou no ouvido de Milinha:

- Vá de-va-gar, vo-vóóóóóó!

- Fale baixo, diacho! Está pensando que sou surda?