Boi sem Rumo
O velho Chico quase nada tinha: um casebre, um carro de boi e um boi. Sobrevivia transportando água do açude para as casas, e de vez em quando buscava milho, melancias, jerimuns, mangas e pinhas dos roçados para a cidade. Seu carro de boi tinha uma proteção de tábuas nas laterais, que formavam um grande caixote, bem apropriado para carregar coisas soltas sem perder pelo caminho. A água, ele transportava em dois grandes barris de madeira.
O povo estava acostumado com o rangido do carro de boi do Velho Chico, nas suas eternas idas e vindas do açude para as casas, dos roçados para a cidade, com ele sentado na beirada, conduzindo o boi, cutucando-o de um lado ou de outro, dependendo da direção que queria seguir.
Um dia estranhamente o carro de boi despontou na estrada dos roçados sem o Velho Chico. O boi vinha atado à canga e puxando o carro devagar, e logo os moleques da cidade, curiosos, o acompanhavam em procissão.Queriam ver onde o boi ia assim, sozinho, sem ninguém a guiar. O boi entrou na cidade, sempre a passo lento, e a procissão de moleques atraiu a curiosidade das comadres que tagarelavam às janelas. Logo uma pequena multidão acompanhava o estranho passeio do bicho. Depois de contornar a praça, finalmente o boi parou, bem defronte à igreja. Os moleques mais afoitos logo foram ver qual era a carga do boi solitário, e encontraram caído dentro do caixote de carga o Velho Chico. Morto.