Alguém me Ouvindo?
E assim começava mais um ano, em uma nova fase com novos desafios. Mas agora o ambiente era novo para o estudante. E quando aconteciam tais mudanças era sempre uma luta para se adaptar, pois era muito tímido.
O nervosismo atuava em todos os sentidos. Olhava para ver se não olhavam para ele. Cruzava as mãos, coçava a cabeça e fazia de tudo para ocupar as mãos enquanto caminhava para o pátio adentro da nova escola. Rodeava seus olhos analisando o contexto do primeiro dia da batalha dos alunos. Todos uniformizados. Uns se agrupavam e davam abraços e beijos na alegria do reencontro. Outros estavam na cantina comendo aqueles salgados gordurosos logo pela manhã. Alguns se encontravam isolados nos bancos ouvindo musica no mp3, quietos e imóveis esperando o sinal soar.
O estudante novato foi logo encontrar um lugar para sentar. Sentado ele se sentia um pouco mais calmo, achando-se não tão exposto a tantos milhares de par de olhos.
Ouvindo também a sua musica, o aluno se consolava por não ser o único sozinho na multidão, pois havia outros na mesma situação que ele. Mas por outro lado era muito pessimista porque se achava uma pessoa muito complicada em iniciar amizades.
O sinal tocou e todos foram para sala. Já na classe as aulas do primeiro dia se resumiam em apresentações dos professores e algumas observações. O silêncio pelo menos era garantido para o corpo docente.
A hora do intervalo era uma cópia da entrada para os que não conheciam absolutamente ninguém. Sozinho novamente e escutando musica o estudante observava as aglomerações de adolescentes, as risadas, as conversas, se ocupando em analisar o movimento. Às vezes imaginava uma trilha sonora para certa cena e então trocava de musica tentando combinar o tom e o cenário. Passatempo para novatos estudantes.
Mas os dias se passavam e ele continuava só. O seu íntimo já se incomodava de tanto individualismo. O jovem estudante sabia de suas fraquezas. Sua dificuldade em iniciar companheirismo era como o fogo, que para acender precisa combustível, oxigênio e calor. Ele tinha em mão os dois primeiros, só lhe faltava uma única faísca de calor para iniciar uma amizade. Tinha tudo e ao mesmo tempo nada.
Às vezes o estudante se perecia bem, mas seu interior clamava por ajuda:
- Tem alguém me ouvindo? Tem alguém me vendo? Alguém gostaria de conversar?- Dizia para si mesmo.
Na hora da saída observava algumas atitudes que o intrigava. Viu um casal de estudantes namorando. Trocavam beijos enquanto fumavam um cigarro. Era mesmo um vício? Pensava, ou era um modo de se destacarem? Ainda outros saiam e compravam latas de bebidas alcoólicas. Abanava a cabeça negativamente desabafando a sua pena por adolescentes tão vulgares.
Sua solidão já se encontrava em seu limite, realmente não agüentava mais. No intervalo de um certo dia não encontrava mais passatempos e seu íntimo explodia como uma erupção.
- Alguém me ouvindo? Preciso de ajuda. Será que alguém quer conversar?
O seu limite o impulsionou a desafiar a sua excessiva timidez. Estava decidido a falar com alguém mesmo que não adiantasse nada. Pois na mesma hora que levantou depois de tanto pensar veio um jovem que conhecia de vista na sua sala de aula e disse:
- Poxa meu, você está sozinho ai? Vem conversar com agente, qual é seu nome?
Sua gratidão por uma atitude daquelas o fez soltar um belo de um sorriso e a dizer:
- Sim, claro, vamos conversar. Com todo prazer.
Sim, a faísca da amizade apareceu e uma grande alegria cresceu em seu coração.