O REENCONTRO

Ele era mais um caboclo que deixou o sertão e veio para a cidade grande na ânsia de vencer na vida, visto que nos tempos idos, a roça era um lugar de vida sacrificada e o rapaz não queria terminar seus dias como seus pais, fincando os pés no campo, trabalhando para os pequenos fazendeiros do lugar. Ele tinha sonhos, tinha ambições, tinha antes mais uma mulher amada, uma linda menina que lhe dera a maior prova de amor e da qual emanava forças para enfrentar os desafios da vida. Diz o mestre de obras em seus momentos de nostalgia que foi difícil a decisão de separar daquela por quem tinha tanto apreço, mas se não houver a dor da separação, dificilmente haverá o prazer do reencontro e foi pesando assim que deixou a roça e veio parar aqui na metrópole.

Os seus sonhos de mudar de vida aos poucos foram se realizando. No inicio, o trabalho pesado de servente pedreiro, depois foi aprendendo o serviço, meia colher, pedreiro e hoje, embora somente com o ensino elementar, é mestre de obra na construtora onde teve o registro de sua carteira profissional pela primeira vez e onde a mais de vinte anos vem trabalhando. Operário assíduo, de confiança dos patrões, sempre se doando ao trabalho, o que não aconteceu na vida amorosa, pois aquela seria capaz de amarrá-lo pra sempre, simplesmente, diz o rapaz desolado, desapareceu de sua vida e nem rastro deixou.

Sim o pai da moça era um rústico peão que aparecera por aquelas bandas onde ele morava para trabalhar de retireiro em uma pequena fazenda da região, e diga-se de passagem Pedro Luiz nunca viu com bons olhos o namorico de Izinha, sua filha primogênita e um anjo de candura, com o rapaz, na realidade nunca disse nada, mas mostrava nos gestos esta aversão ao caso. Com a partida de Argemiro procurando criar condições de formar um lar, o peão diz ter arrumado serviço melhor em outra fazenda e simplesmente, numa certo dia, anoiteceu, mas não amanheceu na fazenda, sem se despedir, mudou, deixando para traz apenas algumas contas a pagar na venda do bairro e nada mais.

Ao saber do acontecido, o rapaz ainda procurou localizar a família desertora, mas qual o que, nunca mais nem sequer ouviu falar em Pedro Luiz e sua família, e até hoje não sabe por qual razão, simplesmente desapareceram do mapa. A decepção foi grande e desde então se desiludiu com a vida amorosa, teve muitos casos nos seus quarenta e poucos anos de vida, porem mulher alguma foi capaz de cativar o coração do quarentão de cabelos grisalhos. Estava simplesmente fechado para balanço e casamento então, nem falar.

Mas como é difícil entender os mistérios do coração, não se sabe por qual motivo, hoje ele fica todo derretido por uma bela garota, uma colegial que passa todos os dias em frente a atual construção, um prédio residencial na movimentada avenida que dá acesso a uma escola estadual, onde a menina estuda. Nem ele mesmo sabe explicar, mas alguma coisa o atrai para aquela garota e isto é tão evidente que até os próprio colegas de trabalho já notaram e não deixam de fazer chacota quanto aos sentimentos do bondoso encarregado e o mais curioso e que os olhares são correspondidos pela menina.

O destino as vezes nos prega certas peças que só vamos compreender muitos tempos depois, mas nestas idas e vindas da escola, momento de movimento intensos tanto nas calçadas quando na ruas, veículos indo e vindo, carro motocicletas e transeuntes onde para trafegar era necessário muita atenção, e foi num desse momento de pico, enquanto Argemiro do alto de um andaime, observa a menina acontece um inesperado acidente, uma moto desgovernada atropela a garota que cai pelo chão desacordada, rápido como que, Argemiro desliza andaime abaixo indo ao socorro da vitima que desmaiada, permanece no chão da calçada, um aglomerado de curiosos rodeiam, sem pensar duas vezes, ele pega a vítima no colo, e sai desesperado, coloca-a no carro da firma que estava próximo ao canteiro de obras e sai em disparada para o hospital onde após muito burocracia, finalmente ele consegue sair do estabelecimento de saúde, deixando la, a menina internada sob a fiança de um cheque caução assinado por ele próprio até a chegada dos familiares da vitima.

No outro dia bem cedo, após comparecer ao serviço, passar as ordens como de costume, saiu preocupado pra visitar a moça. Já no balcão de atendimento foi informado que ela passava bem, felizmente não havia sido nada grave, porem permanecia em observação num quarto do hospital e que sua mãe havia deixado um recado na recepção que precisaria falar com o homem que havia socorrido a filha.

Argemiro titubeou um pouco, mas decidiu ir até o quarto para a então conversar com a menina e seus familiares. Ao entrar no quarto fica feliz ao ver a Jovem sorridente sobre o leito e pela primeira vez se falaram. Ela estava radiante e mais bela do que nunca e foi logo agradecendo a preocupação de Argemiro, dizendo que verdadeiramente agiu como o pai que ela não teve a oportunidade de conhecer, destemida ainda fala um pouco de sua vida, diz que mora com a mãe que trabalha de domestica na casa de um figurão da cidade desde que veio do interior a procura do namorado quando expulsa de casa pelo avo ao saber que estava grávida, porem nunca o encontrou. Argemiro sente inquieto, esta historia parece revolver o seu passado, alegando compromisso ameaça sair e a jovem pede para que aguarde um pouquinho, pois sua mãe estava grata e gostaria de conhecê-lo, porem mal acabara de falar entra no quarto, mais bela do que nunca, a mãe da menina, a Izinha que a mais de vinte anos os desencontros da vida o haviam separados.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 25/07/2010
Reeditado em 25/07/2010
Código do texto: T2399007
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