Encontros I

- Mais essa agora!

A chuva despencou sobre a cidade e surpreendeu a todos.

- De onde vem essa chuva? Agorinha mesmo o céu estava azulzinho!

Procurou abrigo sob a marquise onde dezenas de pessoas já se aglomeravam. Subitamente a chuva parou. Ninguém entendeu nada. Alguém começou a falar sobre o aquecimento global. Apressou-se em sair dali. Deu o primeiro passo e foi bruscamente detida.

- Cuidado! Vai arrancar o botão do paletó!

Não sabia como, mas sua écharpe havia se enroscado perigosamente num blazer ao lado. Ficou apreensiva temendo por seu lindo acessório importado. Delicadamente desfez o nó e saiu em direção à rua.

O homem atravessou a rua com os passos mais largos que podia dar em meio aquela multidão apressada. A porta giratória o irritou. No elevador, o ascensorista lhe cumprimenta. Responde com um grunhido. Gentilmente, o rapaz lhe informa que o botão está quase caindo.

- Maldição!

A secretária segura no ar o paletó e ouve a ordem para que dê um jeito na situação. O homem bate a porta.

A mulher está num elegantíssimo banheiro feminino. Diante do espelho respira fundo. Tenta em vão se acalmar. Ajeita-se. Põe a ansiedade sob controle e sai. Cabeça erguida, salto alto, elegante! Olha enfrentando os próprios medos, não percebe a porta que se abre, o homem que sai e esbarra nele. Pede desculpas. Não ouve resposta, mas não dá importância. Precisa se concentrar. Segue pelo infinito corredor.

A secretária traz o paletó. Ele o veste. Sua irritação é visível.

A sala está cheia. Todos esperam pela apresentação do novo diretor financeiro. Ninguém imagina quem é. O medo provoca os boatos mais estapafúrdios. O certo é que todos estão nervosos. Haverá cortes drásticos. O homem imagina que depois de um dia como aquele, tudo pode acontecer. Enquanto alguns suavizam a expectativa, ele a detesta!

Ela entra na sala. Cabeça erguida, salto alto, uma bela écharpe com franjas. Elegante! É apresentada como a nova diretora financeira. Segura de si, começa seu discurso de apresentação falando sobre seus tropeços do dia e simpaticamente diz acreditar ser sinal de boa sorte.

Um largo sorriso acompanha a sua apresentação. Gestos contidos, estudados vão despertando em todos confiança. A tensão diminui.

Um pequeno coquetel é servido. Todos cumprimentam a nova diretora. O homem fica por último. Ela , sem dúvida, fora o motivo de parte dos seus aborrecimentos do dia. E agora ele sabe: do mês e da semana também. Aproxima-se, estende a mão. Ela para por segundos. Está visivelmente constrangida quando segura a mão dele. Sorri.

- Reconheci seu botão. Desculpe-me...

Ele a interrompe.

- Não foi nada! Acontece.

- Vamos trabalhar juntos, né? Soube que você é o homem da criação.

Ele se sente um idiota diante de tanta simpatia.

-Vamos sim.

Sorri tentando quebrar a péssima impressão que só ele sabe que deixou.

-Acho que vamos nos dar muito bem.

- Espero que sim.

Brindam juntos a um novo começo sem atropelos.

De longe, sem ser notado o Destino sorri. Havia conseguido juntar os dois.

VALERIA DA SILVA
Enviado por VALERIA DA SILVA em 22/06/2010
Código do texto: T2335708
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