DUPLO ASSASSINATO

Era um tempo diferente dos atuais naquele época existiam mais moradores na zona rural do que na cidade, o sitio propiciava uma vida saudável, a roça produzia quase tudo que o camponês necessitava e somente procuravam a cidade para comprar e aquilo que a terra não podia lhe dar, do mais, tudo se resolvia lá mesmo, no sitio. Falando assim até parece que os moradores da roça viviam isolados, ao contrario, tinham uma vida comunitária muito ativa tanto que todos finais de semana sempre tinham um encontro, ou no campo de futebol do bairro, ou na capela onde sempre existiam as rezas, sobretudo o primeiro domingo de cada mês o que chamava de “domingo de mês”, quando mesmo o padre não estandopresente, eles se reuniam para a reza do terço, alem dos famosos bailes que eram realizados quase que mensalmente, ora na casa de um morador, ora na casa de outro e assim se vivia a vida.

Existia no bairro uma jovem na flor da idade, menina muito bonita galanteada pelos rapazes do bairro e até por de outras localidades, tinha cútis clara, olhos azuis, cabelos loiros cacheados, um verdadeiro bibelô, porem apesar simpática para com todos os pretendentes, dizia que seu coração já tinha dono, embora nunca tenha revelado e nem mesmo as amigas mais íntimas ficaram sabendo quem era o felizardo.

A menina tinha uma vida social intensa, um circulo de amizade muito grande com todos do lugarejo, participava da vida da pequena comunidade, seu pai era um homem bruto mas se orgulhava da filha que tinha, porem no seu jeito rústico e sistemático, não admitia deslizes nem aceitava os rompante da juventude, trazia a filha num cortado, embora dando liberdade para a participação comunitária, se orgulhava disso e não despregava o olho da menina que alem de ser a caçula era também a única filha de uma prole de oito rebentos.

Apesar dos cuidados constantes, certa época a menina mudou repentinamente de comportamento, ficou mais caseira, olhar triste e preocupado, já não mostrava disposição para as festinha, e até mesmo os bailes do bairro já não comparecia com freqüência, seu corpo começou a mudar, ganhou alguns quilinhos e uma barriguinha onde as amigas mais chegadas começaram a desconfiar de uma possível gravidez, mas a menina jurava por todos os santos que não era nada disso, até que a mãe preocupada com a situação, não achando aquilo normal, levou-a ao medico que após examiná-la deu o diagnostico de gravidez ali mesmo no ato da consulta.

A noticia da gravidez da menina caiu como bomba na cabeça do pai conservador da mesma forma se esparramou pelo bairro todo e ninguém podia entender tal situação. Varias foram as tentativa de descobrir quem era o pai criança, porem em momento algum a menina revelou e aquela que era o orgulho agora tornou-se a vergonha da família, o estúpido e incrédulo pai pensou logo em um meio de se livrar da incomoda situação, procurou uma malfadada benzedeira para a realização de um aborto, na tentativa de se livrar de vez da barriga da filha.

A gravidez já estava, pelos cálculos do medico, por volta do quinto para o sexto mês, a benzedeira, apesar de uma mulher perversa, se negou realizar o trabalho, não pelo ato ilícito em si mas pela formação do feto o que poria em risco tal procedimento sem o mínimo recurso, indicando porem um medico numa cidade não muito distante que ganhava a vida com este tipo de atendimento, alertando no entanto que o trabalho era caro, mas valia a pena, pois a menina correria menos risco de vida.

Acontece que a menina queria assumir a maternidade indo contra a ideologia paterna que não admitia uma mãe solteira em sua casa e muito menos sendo esta sua filha, obrigando assim a menina, a custo de ameças dos mais variados tipos a aceitar a sua conduta, mesmo contra a sua vontade que era o mesmo desejo da mãe e dos irmãos mais velhos, mesmo assim a menina foi levada para a pratica do ato ilícito que apesar dos contratempos e riscos, foi realizado.

Sentindo envergonhado, não pelo aborto, mas pela indignidade da filha, vendeu sua propriedade rural, se mudou para uma cidade grande longe dos olhares de condenação dos conhecidos, lá os filhos, cada um tomou seu rumo, porem ela, a menina comunicativa e popular, se fechou dentro de si, tornou uma pessoa amarga e sem iniciativa para nada, o mundo parece ter desmoronado em sua cabeça.

O Pai que morrerá algum tempo depois, talvez até acometido pelo remorso, hoje não pode ver a filha demente que vive só na vida, num bairro da cidade grande onde todas as tarde, passa horas e horas no portão que dá para rua, com os olhos perdido no infinito, em busca do nada, como quem espera paciente a chegada de alguém que partiu e nunca mais voltou.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 18/06/2010
Código do texto: T2328166
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