O ULTIMO COMICIO

Num desses períodos eleitorais onde os políticos parecem realmente ser povo, conhecer a necessidade do povo, falando em prol da população desvalida, um forte candidato a barrosa, nome carinhoso dado a prefeitura, símbolo de poder e altos salários, promoveu um grande torneio de futebol no campo de um populoso bairro nas proximidades da pequena cidade interiorana. O Evento foi amplamente divulgado pelos seus cabos eleitorais e no dia marcado para lá rumaram uma multidão, tanto pelo esporte quanto pelo comício que seria feito para divulgação da plataforma de governo do então aspirante ao cargo de prefeito e a festa foi de arromba. Já no final da tarde, no intervalo do ultimo jogo do torneio, num placo improvisado com um caminhão no centro do gramado, o candidato ovacionado por uma salva de palmas, subiu ao palanque para o esperado comício de encerramento de campanha, empolgado com a calorosa acolhida e ao aparente sucesso que vislumbrava uma vitoria no dia do pleito, levado pelo improviso e querendo mostrar antigo conhecedor da região o que com certeza, renderia muitos votos, o candidato iniciou sua fala dizendo em alto e bom tom:

_______ Meus caros eleitores, povo querido desta terra esquecida por políticos quiçá interesseiros que só lembram que nós existimos em períodos eleitorais, deslocando dos grandes centros até aqui para pedir nossos votos e depois de eleitos, esquecem da gente e de vez em quando nos mandam uns caraminguados vinténs a titulo de ajuda e que na realidade não dá para suprir a necessidade de nosso povo tão carente. Se eleito for, irei batalhar para que o nosso povo possa ter mais voz, um representante digno que ira batalhar recursos financeiros para nossa esquecida e tão amada cidade, irei, como um garimpeiro em busca de ouro, bater todos os dias se preciso for, a porta do Palácio do Governo e se necessário, irei até a distante Brasília, mas não desistirei da luta em prol de nosso povo e nem esquecerei esta cidade que tanto amo, onde nasci, onde cresci e desde que me conheço por gente, procuro manter viva na memória os fatos marcantes de minha vida vivida nesta querida cidade. Olhem pois – e mostrou com o dedo indicador uma velha paineira centenária que apesar dos maus tratos insistia em permanecer viva e oponente a beira da estrada e esta era a oportunidade que tinha em mostrar que a região fazia parte de sua vida – vocês estão vendo aquela velha paineira na curva do estradão. Pois bem, meus amigos, não é de hoje que conheço aquela paineira sempre altiva e frondosa, pois ela é testemunha, esta cidade era um simples povoado não passava de alguma dezenas de casas, eu era ainda era um rapazola e debaixo daquela figueira eu comi muitos veados.

O veado que havia mencionado tratava-se de um popular animal selvagem e cuja caça era realizada com muita freqüência, sendo sua carne muito apreciada pelos mais antigos moradores, animal que hoje não se encontra na região sendo praticamente desconhecido pelos mais jovens mas a esta afirmação, na mente fértil e perversa do povo ganhou outro sentido e os cochichos e risos foram gerais, como experiente político e eloqüente orador, imediatamente percebeu a gafe que havia cometido e era preciso reverter o quadro a seu favor, assim na tentativa de melhor explicitar, deu uma pausa no discurso para o povo se recompor, reordenou suas idéias e prosseguiu:

________ Meus amigos, queridos eleitores, sei que muitos de você não conhecem mas o veado que digo não é esse que os senhores estão imaginando não. Eu comia os veados de quatro pés!

Apenas um erro de interpretação, o comício desandou prosseguindo ante o deboche dos eleitores e embora sendo uma excelente pessoa, o candidato não foi eleito.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 26/05/2010
Código do texto: T2282017
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