Nas profundezas da mente
Eu dormia tranquilamente em meu humilde apartamento. Era o mês de Maio e havia finalmente chegado o dia das mães.
Eu havia sido despertada pelo meu telefone que eu considerava muito barulhento pois o andar de baixo podia ouvi-lo sem problemas.
Eu atendi, e logo uma voz de uma mulher muito triste começara a falar.
-A senhora é a doutora Liah? A psiquiatra?
eu não gostava que as pessoas me chamassem de senhora, pois eu tinha apenas trinta anos e não era casada, mas adorava ser chamada de doutora.
-Sim sou eu, quem esta falando?
-Eu preciso conversar com a senhora em seu escritorio, sera que eu poderia?
Eu odiava quando as pessoas me procuravam as quatro horas da madrugada em um domingo pois era o unico dia em que eu podia descansar, mas como uma psiquiatra, eu tinha de ouvir essas pessoas, pois eu não sabia o que elas podiam fazer se não fossem ouvidas.
-Qual é o seu nome?
-Isso não importa doutora, alias, nunca importou.
Nessa hora eu sabia que esse podia ser um caso de suicidio.
-Esta bem, a senhora sabe onde fica meu escritorio?
-Eu já estou nele doutora, por favor, me encontre o mais rapido possivel.
A mulher então desligou o telefone.
Eu não pensei duas vezes, coloquei minha roupa que usava diariamente para ir a meu escritorio e sai de meu apartamento para me encontrar com a estranha mulher.
Quando cheguei a meu escritorio, as luzes estavam acesas e eu me perguntava em como ela conseguira entrar?
Eu apenas abri a porta sem precisar destranca-la, pois já estava aberta.
A mulher misteriosa me esperava na sala de espera.
Ela tinha cabelos grisalhos, mas estavam impecalvelmente penteados.
Parecia ter em torno de quarenta anos, ela vestia um belo vestido branco com sapatos pretos.
Os olhos verdes dela me encaravam curiosamente.
-Boa noite doutora.
-Boa noite, o que a senhora precisa falar para mim?
A expressão sorridente dela mudou para uma expressão triste, mas ela ficou calada.
Eu esperei para que ela falasse.
-Meu nome é Naiara, doutora, e sou formada em psicologia.
Eu achei um pouco estranho o fato de uma psicologa estar tendo uma crise de depressão, mas eu continuei ouvindo.
-Bem, eu sei muito bem o que eu tenho, mas eu só tenho que contar a alguem.
ela então deu um breve suspiro e continuou.
-Se nós não termos um RG, somos considerados como mortos, se somos bons em alguma coisa, isso não é considerado.
Entenda doutora, eu não consegui passar em medicina para ser uma psiquiatra como a senhora por causa das exatas, mas eu era muito boa nas outras materias.
E tambem não consegui um emprego de psicologa porque nenhum lugar me aceitava.
Hoje eu trabalho como secretaria de um escritorio de psicologia, hilario não é?
Ela então começou a chorar dolorosamente.
Hoje doutora, eu estava pensando em me suicidar, pois para mim era o unico jeito de me livrar desse mundo injusto, mas uma pessoa apareceu para mim hoje.
Era uma pessoa que vai sempre na igreja, ele é apenas um simples garçom que tem um diploma de letras, mas ele é feliz.
e eu pergunto a senhora doutora, por que ele é feliz?
Eu então comecei a pensar como uma psiquiatra, a pensar que era o hormonio seratonina e outras coisas que o estava ajudando, e como tal, eu não respondi, apenas perguntei a ela o porquê.
-È porque essa vida é apenas passageira doutora, nós só vivemos no maximo 100 anos nessa vida, mas depois disso nós temos a eternidade.
Ela então me deu um alegre sorriso.
-Eu queria estar na outra vida doutora, mas eu sei o que acontece quando nos suicidamos.
Ela sorriu novamente e se levantou.
-É só isso doutora, mais tarde você sabera porque eu apareci aqui.
Eu não poderia deixa-la sair se ela não tivesse dito a ultima frase, então eu apenas sorri de volta, um pouco confusa eu confesso, mas eu abri a porta gentilmente para ela.
-Tchau doutora, obrigada por essa oportunidade de conversar com a senhora.
-Tchau Naiara.
Naiara então desapareceu entre a escuridão da madrugada.
Duas semanas depois, eu nem mais pensava em Naiara, eu estava pensando em meus dois ultimos pacientes altistas quando um gigantesco terremoto fizera meu escritorio tremer ameaçadoramente.
Eu sai para fora, havia varias pessoas correndo e gritando, e meu escritorio acabou sendo destruido.
Eu me senti angustiada e sem rumo.
Meu carro havia sido destruido tambem pelos destroços da casa.
Comecei a andar em direção a minha casa, e ela tambem havia sido destruida.
Meus certificados, meus bens estavam tudo na casa e no escritorio, levei trinta anos para conseguir, mas em cinco minutos tudo havia sumido.
Comecei a chorar como nunca havia chorado, a andar como nunca havia andado, eu estava andando sem rumo.
Apos duas horas andando, vi um escritorio de psicologia.
Eu entrei sem pensar, talvez fosse porque era algo familiar para mim.
-Com licença, quem é o psicologo que trabalha aqui?-disse para a secretaria.
-É a doutora Naiara, a senhora gostaria de marcar um horario?
-Logo vi a secretaria encarando meu jaleco branco e meus sapatos.
-hum.. A senhora é doutora?
-Psiquiatra.-Respondi.
Então percebi que ela me olhava com incredulidade.
-Emily, é feio olhar para as pessoas desse jeito.-Respondeu uma voz atras de mim.
-Desculpe doutora, ela esta marcando um horario com a senhora.
-Não precisa Emily, não tenho ninguem agora, venha, vou atende-la.
Eu então finalmente olhei para trás e reconheci seu rosto.
-Naiara?
-sim, sou eu doutora Liah.
Ela então sorriu docilmente.
-Eu não te avisei Liah? avisei que o mundo era injusto.
Eu então recordei da história que ela havia me contado sobre o garçom.
-A vida é passageira, você não tem que ligar para os bens materiais.-disse Naiara seriamente.
-Há uma hora atras me chamaram para ser psicologa daqui porcausa do terremoto, pois ira aumentar o numero de pessoas procurando alguem para escuta-las. A antiga psicologa havia se demitido porque ninguem a procurava, então como eu ja havia mandado um curriculo aqui e aconteceu esse desastre, eles acharam melhor me chamar para trabalhar aqui.
Naiara então sorriu.
-Eu vou te ajudar Liah, você quer ser a psiquiatra daqui?
Então pela primeira vez desse dia, eu dei o meu primeiro sorriso.
eu a abracei com o mesmo abraço que eu abraçava a minha mãe.
-Obrigada Naiara.-choraminguei.
Eu resolvi não trabalhar tanto, e em resposta, tive um marido e filhos porque eu tive tempo de te-los, e assim como o garçom, eu vou para a igreja, onde posso encontrar paz.
Mas até hoje eu me lembro do grande desastre que aconteceu no mês das mães, e lembro que se não fosse por isso, eu não seria feliz como eu sou com a minha familia.