O Chapéu

A lua a olhava mal humorada,colocou o óculos de sol,saiu do taxi e atravessou as ruas em passos apressados até o hotel,seus olhos olharam a lua mau humorados,a cidade não era tão bonita quanto a do anuncio,toda aquela gente feia,as construções feias e o cheiro do mar,não havia nada disso no anuncio,”pare helena,pare helena,planejou essa viagem há tanto tempo,as coisas não são tão ruins,tente aproveitar” ,se atentou a ouvir o barulho do mar e a brisa que passava,e caminhou ao hotel sorrindo,mas não adiantava,seus olhos eram péssimos mentirosos,eles continuavam mau humorados

Acostumada com o planejamento e a ordem do banco em que trabalhava,passou os três primeiros dos quatro dias de viagem,seguindo fielmente o roteiro,dormiu das 11 as 8,caminhou até 10 deitou-se em sua esteira na praiaaté duas,almoçou,dormiu de tarde,até as 4 ,organizou o quarto até a 6 e assistiu todas as novelas da TV (embora não as assistisse realmente) até as 8,ia jantar até as oito e meia e saia as compras até as dez e meia ,a praia parecia casa,as férias pareciam trabalho, mas ela sorria alegremente e exclamava pelos cantos do quão bom era estar finalmente de férias,mas sempre de óculos de sol,não poderia deixar seus olhos lhe contarem a verdade

Mas foi na terceira noite que tudo mudou,ao andar pelas feiras de artesanato,se deparou com um chapéu,belo e com ares aristocráticos ,estava sem dinheiro,tentou dar mais uma volta pela praça,mas a vontade de comprar o chapéu não lhe deixava pensar em outra coisa,se via com ele,tão chic tão bonita,feito uma atriz de cinema,feito um personagem de um romance do século passado,feito uma pessoa importante,feito algo completamente diferente de uma bancaria solteira de cinqüenta anos,compra-lo era inevitável,e isso não tem nada a ver com capitalismo,consumismo e domínio norte-americano,isso tinha a ver com humanindade

Mas seus olhos não estavam satisfeitos com o chapéu,faltava mais alguma coisa,ela estava tão velha que não combinava com ele,sua vida ainda era sua vida monótona e chata, sem remédio e solução,mas não,insistente no dia seguinte colocou seu vestido mais bonito,colocou o chapéu,se maquiou .coisa que não fazia há anos,e agora sim estava linda,e parecia um personagem,estava pronta pra sair pelas ruas e dar um rumo a sua vida,”porque apenas as pessoas grandes e elegantes conseguem dar um rumo a sua vida,veja Marilyn Monroe por exemplo”

E apressada no seu salto vermelho de 14 centimetros que não sabia andar,saiu pela cidade ,tentou dançar mas não tinha par,tentou conversar com estranhos mas que eram tão estranhos que a assustavam,e nem a olhavam,ela estava tão linda,tão elegante,tão irreal,era impossível que ninguém a olhasse,que nada acontecesse,mais que impossível,era ridículo,imcopreensivel,desanimador,ela estava bonita demais pra continuar em sua própria vida

Decidiu então ser impulsiva,saiu correndo,apressada e desnorteada pela praia,molhou-se no mar,escreveu na areia,correu descalça e molhada pela calçada cheia de gente que a olhava,olhou o farol,faróis são romanticos,faróis são assustadores,faróis....entrou e tudo era velho e possuía um cheiro ruim,mas ela estava linda,algo havia de acontecer aquela noite,não era justo voltar tão bela e tão reprimida para casa,tão vazia,ela parecia um personagem,deveria haver um ato final,analisou seus arredores,não havia nada a se fazer,nada,exceto.....era ilógico,mas faria dela um bom personagem,era ilógico, mas desde quando personagens belos possuem razão?personagens possuem apenas finalidades ,era completamente absurdo,mas quando se jogou do alto do farol,seus olhos olharam a lua,e ambos estavam de bom humor