Majestosa
Esta história me contou uma pessoa de total confiança. Vindo pela avenida Lauro Sodré, na esquina da Polícia Federal, dobra-se a esquerda para chegar à balsa que faz a travessia do Rio Madeira. O movimento é muito grande, a maioria veículos de grande porte. No mesmo local atracam os barcos que fazem a travessia do Rio Madeira. Pois lá do outro lado existe uma outra Porto Velho, parece que se alguém quer se livrar de um animal doméstico, é lá que o povo larga o bicho inocente. Faz a travessia e lá o abandona sem dó nem piedade. Lá é um lugar, segundo ouvi dizer, esquecido por Deus, mas eu não creio. Penso que o povo é que resolveu se esquecer pela bandas de lá. Pois bem, a primeira barca faz a travessia as seis horas da manhã que é quando o pessoal vem trabalhar. Nesse horário ela linda, deslumbrante no seu colorido, com um porte majestoso que chega a dar arrepios. Os homens ficam olhando maravilhados e pensando: ela deve custar bem uns quatro meses do meu trabalho; as mulheres ficam morrendo de inveja e as crianças dão gritinhos de alegria. Ela acompanha a embarcação, faça sol ou caia uma chuva. Ela não se abala. Deve saber o que sua beleza causa ao ser humano. Já tem alguns anos que isso vem acontecendo. Ela atravessa o Rio Madeira mas não para no local de desembarque, segue adiante e todos suspirando por ela. Não se sabe como ela foi viver daquele lado, mas... Deve ser uma historia longa que ainda não teve fim. Ela passa o dia inteiro na cidade, não se sabe onde, e as dezoito horas em ponto, ela alcança a barca para ir para o outro lado. Nunca se enturmou com suas companheiras, sempre só. Na travessia pela manhã ela vem em silencio, na volta às dezoito horas, ela passa furiosa, aos gritos: arara! Arara! Arara! Não se sabe se ela foi apreendida pelo IBAMA ou se foi abandonada por alguém que foi embora e a levou para o outro lado do rio. O que dá para sentir é que ela já foi de cativeiro e não se adaptou a vida na selva, pois sua espécie anda em bandos e ela sempre só. Habita a mesma arvore, não deixa ninguém se aproximar, e no seu vôo solitário parece estar a procura do seu lar perdido. Comenta-se na região onde vive que, no início, chegou a se depenicar inteira nos seus momentos de fúria. Arrancava as próprias penas. Mas depois cresceu, ficou linda, no seu vôo solitário, altiva, ela deve estar a procura de alguém, do seu lar, E por estar solitária deve alimentar alguma esperança. É provável que sua ultima referencia tenha sido a travessia do rio e hoje ela sobrevoa a cidade inteira. Já foi vista em vários locais diferentes. Ela vem muda e na volta vai revoltada. Pobre arara, tão linda e tão triste. Sofreu quando foi para o cativeiro. Livre, não sabe o que fazer da liberdade, pois tem o seu coração partido. Bem que poderia ser arara macho, mas não é, é uma fêmea, e é bem próprio, até no reino animal os sentimentos se parecem. Olha só, uma arara fêmea que não sabe e não quer ficar livre. Quer é voltar para o seu cativeiro. Uma bela ave! Muito comum por estas bandas. As araras vivem em bandos, são naturais da floresta. Tem a arara vermelha, a ararinha azul, os papagaios. Se olharmos com atenção num local de grande vegetação podemos encontrá-los sempre em bandos. É muito comum o tráfico destas aves que são transportadas de maneira cruel e a grande maioria morre na estrada. O IBAMA não dá conta das manobras cruéis dos traficantes para transportar aves e animais exóticos. Como são capturadas logo que nascem, a crueldade é tão grande que eles chegam a viajar dentro de malas, sem orifícios. E sempre tem que os compre. E o bicho ou morre ou, depois de domesticado, não sobrevive mais no seu habitat natural. Como são vendidos sem anilha e nota fiscal do IBAMA, muitas vezes quando seu proprietário (?) muda de cidade não pode levá-los, pois adultos eles tornam-se difíceis de serem transportados pelo tamanho e pela força do seu bico enorme, ou suas garras. Entregar para o santuário animal não querer sob pena de ter que responder processo judicial. O IBAMA faz a apreensão para sua readaptação, mas alguns cometem o suicídio, vão se bicando até morrer. Ou morrem de saudades. É o homem e a sua sede de destruição, a ganância. O numero de animais capturados em nosso país passa de 30.000 por ano. Desses, cerca de 90% morrem, seja em virtude do transporte inadequado, ou para terem suas partes, bicos, penas, etc, retirados com mais facilidade. E os outros 10% são vendidos vivos. Os animais mais procurados são: arara Canindé, arara vermelha, ararinha azul, currupião, curió, jaguatirica, macaco prego, mico leão dourado, papagaio da cara roxa, saíra de sete cores, tié sangue e tucano. Para denuncias, por favor, liguem para o IBAMA.