Fogão de lenha
A brasa que acende aos poucos
Esquentando a panela de barro
Sobre a trempe de seis bocas
Depois de uma noite chuvosa.
Acordo e não encontro o pinico
É atrás da porta que eu fico
Esperando passar o vento.
Papai diz: acorda, não tem prosa
Vamos pra cozinha
Não temos muito tempo.
O café já tá pronto
O leite já veio do curral
A vaca Zabelê – a melhor que tinha
Morreu de idade, no fundo do quintal.
E o fogão de lenha...
Majestoso, grande, vermelho...
Liso e quente aquece agente.
As cinzas no fundo da panela
Não deixam que o carvão grude nela.
A laranja é chupada
E sua casca é toda aproveitada.
Lançada para o telhado da cozinha,
Em nome da madrinha
Como brincadeira da meninada.
Depois de seca,
Tornando-se combustível ajuda acender o fogo.
Como ingrediente:
Dá sabor ao doce de leite
Que mamãe faz pra gente
E no almoço é servido
Para os filhos e o marido.
O descanso é pra todos,
Até para o fogão de lenha
As brasas vão se apagando,
As cinzas se formando
E na trempe de seis bocas
Somente uma fica aberta.
Na panela de barro sempre tem água quente
Pra de repente... fazer um chá,
Pra curar ou pra relaxar.
As cinco o rádio toca forró
A sala se transforma em lugar de dançar
Eu, mamãe e papai...
Os outros também estão lá.
Terminada a brincadeira
É hora de torrar café
Foi colhido da roça,
Colocado pra secar,
Dentro da frigideira, misturado com açúcar
Vai ao fogo até virar calda grossa.
Depois de pisado no pilão
É o melhor café que há.
O fogão de lenha
Em noite fria, quando quente,
Cozinha e aquece agente.
No forno, a quentura é aproveitada,
Fazendo-se bolinhos na forma
Mas também se fazendo torradas
Pra servir a meninada.
Que se despede de mais um dia
Daquele fogão de lenha
Que por tamanha gratidão, eu diria,
“Que Deus o tenha” – como dizia minha tia.