Conto de sexta-feira da paixão
A semana santa chega de repente, sufocada que foi pelo carnaval do fim de fevereiro, e que nossos queridos baianos esticam a não mais poder. De fato, a semana santa veio chegando com pouca mídia, pois, a semana passada inteira foi ocupada com um julgamento de grande repercussão, concluído com a condenação dos réus, que somam mais de meio século em penas. Na ocasião, reli o livro de memórias de AlfredoTranjan – A Beca Surrada.Tranjan, notável tribuno, onde relata alguns dos casos em que funcionou como advogado. Podemos ver como é complexo um Tribunal de Júri. Tive oportunidade de participar em dois júris simulados, em que Tranjan e Laercio Pelegrino deram show de talento, erudição e oratória; respectivamente, o julgamento de Lampeão e o Julgamento de Otelo. É impressionante como os discursos e as artes jurídicas interferem em nossas decisões. No caso de Lampeão, entrei com o voto de absolvição pronto e o condenei, e Otelo entrei para condenar e o absolvi. O poder da palavra de quem acusa e de quem defende. Mas, vamos deixar as complicações jurídicas e voltar ao assunto da semana santa. Até os meu 14 anos, gostava muito de freqüentar as missas festivas, e por que não dizer, as não festivas? Principalmente se nessas últimas participasse a princesa das Czardas, de quem falei num texto especial.
Falando de imagens sacras, não poderia deixar de comentar a emoção profunda que algumas delas me causavam, principalmente durante uma missa ou procissão, quando eram conduzidas em andor, especialmente, durante a procissão do encontro, na 6ª feira da paixão.Influenciaram muito, a minha fase de "santeiro", em especial minhas esculturas de cristo.Participava intensamente das solenidades e por duas vezes, vesti-me de apóstolo e exigia como condição básica, não representar Judas Iscariotes; preferia sempre um apóstolo que tivesse história de grande influência sobre os demais; sem traições ou negações! Entendi mais tarde, que a segunda grande estrela da companhia era Judas; tirando Jesus, a grande estrela era o traidor Judas; o próprio Pedro vacilou, quando ouviu de Cristo, que antes do canto do galo, o negaria três vezes, o que a religião confirma. Eu rezava muito e venerava os santos de minha predileção, Santo Antonio e Nossa Senhora da Aparecida; jamais rezava para Jesus, não sei por que motivo, provavelmente, deixando-o para questões mais complexas, que nunca chegaram a aparecer naquela época de minha vida. Por mais que eu estudasse, jamais deixei de fazer minhas orações para proteção durante o período de provas, inclusive, levando as imagens de meus santos protetores no bolso. Poderia dizer, muita fé ajudava à pouca inteligência.Essas lembranças sempre me fizeram compreender as razões que fazem o povo ter apego às religiões, de qualquer espécie, havendo até artistas sofisticados de televisão que são budistas; não os critico, porque é interessante a pessoa mais fragilizada, acreditar em alguma entidade protetora, de qualquer que seja a religião. Ainda hoje, gosto de ver nas igrejas, que freqüento em compromissos sociais, as belas peças de escultura que compõem as imagens sacras. Qualquer que seja a nossa crença, ou mesmo que não exista nenhuma, devemos manter respeito pelas coisas que são motivo de admiração da população. Houve caso no Rio de Janeiro, de um crente que foi para o xilindró, porque deu ponta-pé em Nossa Senhora da Aparecida. Até eu achei que o sacana exagerou. Não crer já é uma crença!