O RELOGIO PERDIDO

Era uma tarde de domingo o calor estava intenso pois época dos dias longos e quente, o dentista estava numa mesa no boteco em frente a praça, única da pequena e pacata cidade do interior, onde todos conhecem todos. Estava rodeados de amigos, sobre a mesa, garrafas copos de cervejas e no centro, o pivô de toda a festa: um belo e conservado relógio de pulso automático, antiquado para os dias de hoje a bem da verdade, mas bem conservado. O dentista exibia como um troféu e a todos que ali chegavam, vinha ele com a historia do relógio que havia perdido, lá pras bandas do Paranazão, nome carinhoso dado ao Rio Paraná, local onde pessoal da região tem o costume de ir pescar, embora fique longe do lugarejo.

Dizia o loroteiro que a mais ou menos vinte anos, numa pescaria que havia feito com a comitiva do saudoso Dito Dias, num descuido e apressado pelo chefe da comitiva, havia perdido o relógio.

“Tudo aconteceu”, relata o pescador, “num dia que combinamos sair pescar de bote rio abaixo. Já havíamos percorrido um bom trecho do rio, não é que me deu uma tremenda dor de barriga e não teve jeito, precisamos aportar e sai correndo para me aliviar, mas não me esqueço da ordem do Dito, que Deus o tenha:-

_______ Vê se anda logo com isso. Não podemos nos atrasar muito.

Subi barranco acima mais ou menos uns vinte metros e ali fiz minhas necessidades. Enquanto estava ali compenetrado ainda ouvi o Dito gritar umas duas vezes:

_______ Anda logo criatura de Deus, senão vamos atrasar muito.

Num gesto impensado, retirei o relógio do pulso para verificar as horas, era um habito que tinha e, ao me levantar, coloquei-o num galhinho de um arbusto enquanto providenciava alguma folha de mato para me limpar, quando mais uma vez Dito Berrou.

_______ Anda logo infeliz.

Recompus-me e sai apressado, amarando a cinta enquanto caminhava, entrei no bote e fomos para a pescaria, fato é que, entretido com o esporte, só fui dar por falta do relógio no barraco, a noite, ao dormir. De tanto ouvir minhas reclamações, o Dito e eu voltemos no outro dia nos prováveis lugares em que ancoramos, mas qual o que, não encontramos o meu precioso Seiko Automático. Fiquei muito triste, não pelo relógio em si, mas pelo valor sentimental que ele representava, era herança de meu finado pai, mas fazer o que, agora o relógio estava perdido e eu não ia ficar lastimando pelos quatro canto.

Viemos embora, algum tempo depois o Dito morreu, a turma se desfez e só fui voltar no Paranazão agora, uns vinte anos depois. Que coisa boa rever e observar aquele belo rio, na verdade muita coisa mudou por lá nestes vinte anos, os ranchos, o conforto agora chegou as barrancas do rio e com esta onda de ecologia, até a mata ciliar que eram esparsas, agora estão mais fechadas, as estradas bem conservadas e o local onde fomos pescar me pareceu familiar. Tanto é que na manhã seguinte a nossa chegada, levantei bem cedinho e fui caminhar um pouco pelas margens do rio, apreciar a natureza e o frescor do ar úmido que emanava do rio. Encostei numa bela arvore, fiquei meditando no silencio da manhã e fazendo minha orações matinais, quando ouço um Tic-tac, Tic-tac, Tic-tac. Achei esquisito pois o meu relógio era digital, mas aquele som suou suave aos meus ouvidos. Olhei para o alto, na direção em que vinha o barulho, eis que deparo com um relógio, brilhando ao raio sol, ainda molhadinho de orvalho. Imediatamente dei um pulo e consegui alcançar aquela joia e imaginem só, era o meu relógio que havia deixado na mata a vinte anos.”

Para justificar o ocorrido, o dentista toma uma gole de cerveja e prossegue a narrativa:- “Acredito que com o balançar da arvore pelo vento, ele carregava de corda e na medida em que o arbusto fora crescendo, foi elevando ele do solo, até chega ao ponto em que o encontrei, mais ou menos uns dois metros do solo. Coincidências do destino ou não, mas lá estava o meu relógio que senti tanto ter perdido”.

Os conhecidos que ouviam a historia do Seu Osório, o dentista e protético da cidade, olhavam com receio para o famoso loroteiro, mas ele confirmava e cheio de orgulho mostrava o troféu:

_______ Aqui esta o danado do relógio, nem precisei acertar, não adiantou nem atrasou um só minuto.

Acreditem se quiser!!!!!!!

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 16/03/2010
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