Humor-Negro...
Você não dorme. Vive revirando na cama. Já não tem mais sonhos e sim pesadelos. A noite parece um ano. O barbeador raspa mal raspado, os pelos de seu rosto pela manhã. O sol nasce entre nuvens. Choco! É chuva que garoa. Frio misturado com colar. O mormaço sufoca a cabeça fervilha. Desde a hora que se bate o ponto. Das oito até o almoço.
Você como todos. Alimenta correndo. Engole, não mastiga. Bebe uma água ou um refrí, servido no copinho de duzentos e oitenta ml. Quente, sem gás, para ajudar empurrar a comida, a sobremesa quando tem: goiabada sem queijo, ou um doce de leite. Com mais açúcar do que leite. E na mesma pressa que saiu para o rango. Volta novamente, para bater o ponto.
O lanche vem: pão sem mortadela cheia de pimenta do reino.
Margarina invés de manteiga. Suco de língua roxa. Quando não servem uma limonada com limões pegos no pé. No quintal da empresa que a copeira e o vigia. Regam de manhã e a tarde. Até mesmo você já por uma ou duas vezes molhou a arvorezinha de fruta azeda.
A sua volta para casa; outra tortura. Ônibus lotado! Engarrafamento. Hora do rush para os elitizados. Você suando feito tampa de panela de pressão. Doido para chegar ao lar. Tomar aquele banho. Bater um arroz com feijão. Abrir uma gelada. Esperar a novela acabar, para pescar os canais convencionais. E ver se pega uma programação, que o atrai.
Com muito custo chega. Abre a porta. A maior decepção: a sogra sentada no sofá, da sala, controle da sua vinte nove polegadas na mão. Sua voz não sai. Cumprimenta a velha com um aceno de cabeça. Passa por ela com vontade de voar naquela garganta fina cheia de pelancas. Não na verdade seu desejo era dissecá-la com um cortador de unhas. É você até sente a emoção, ouvindo os gritos da geriatra, implorando seu perdão. Ah, ah! Você ri por dentro só de imaginar a cena.
Você cumpriu o ritual de sempre: o banho, a janta, a mulher fazendo sala para a mãe que resolve de novo pousar na sua casa. E de novo você entregue as muriçocas do seu quarto. Sozinho, não dorme, esperando a patroa vir se deitar, e quem sabe animarem a dar um, tapa, na criança! Por o atraso em dia... Necas! A dona Maria já deita sonhando, falando o nome de todos menos o seu...
Haaaaaaaaaa! Que crueldade! Que raio de vida essa? Você pensa em berrar, mas não grita, para não acordar os vizinhos... Tic – TAC os ponteiros do relógio não para e quando concilia o barulho com o sono. Trrrrrrrrrrriiiiiiimmmmmmmmmmmmm.
Já é hora de começar sua rotina de novo.