MÃE, HOJE SENTI INVEJA
Meu filho estava com dez anos. Cursava a quinta série numa escola particular de nossa cidade.
Um dia chegou da escola, guardou a mochila no quarto e voltou na cozinha onde eu estava conversando com Elaine, nossa cozinheira na época. Olhando no meu rosto falou em tom calmo, porém preocupado e até mesmo levemente ansioso: “Mãe, hoje senti inveja.”. Estranhei. Inveja era um sentimento que jamais notara em nenhum de meus filhos. Desde pequeninos converso sobre a importância do “ser” e não do “ter”. Quando não podia dar o que pediam explicava o porquê e eles aceitavam com naturalidade. Estudavam numa escola particular desde os quatro anos porque eu era professora da escola e as mensalidades recebiam abatimento. De outra maneira não teriam chance de estarem ali. Eles eram conscientes das diferenças que havia entre eles e os colegas e até aquele momento tudo sempre transcorrera dentro da normalidade. Nada de querer ter o que não podiam. Por isso fiquei inquieta. Perguntei: “Como assim? Por quê?”. Ele respondeu inocentemente: “Estudei tanto e tirei nota oito. Meu colega não estudou nada, colou toda a prova e tirou dez.”. Fiquei aliviada: “Não filho, não foi inveja. O que te incomodou foi outro sentimento. Sentimento de Injustiça. Não te preocupes com isso. A nota que recebestes representa tudo que sabias naquele momento. E sabias oitenta por cento da prova. Teu coleguinha nada sabia, portanto tua nota embora menor vale muito mais que a dele.”
Não sei se consegui convence-lo. Ele simplesmente concordou com a cabeça e nunca mais tocou no assunto.
Meu filho acabara de conhecer a Injustiça.
Meu filho estava com dez anos. Cursava a quinta série numa escola particular de nossa cidade.
Um dia chegou da escola, guardou a mochila no quarto e voltou na cozinha onde eu estava conversando com Elaine, nossa cozinheira na época. Olhando no meu rosto falou em tom calmo, porém preocupado e até mesmo levemente ansioso: “Mãe, hoje senti inveja.”. Estranhei. Inveja era um sentimento que jamais notara em nenhum de meus filhos. Desde pequeninos converso sobre a importância do “ser” e não do “ter”. Quando não podia dar o que pediam explicava o porquê e eles aceitavam com naturalidade. Estudavam numa escola particular desde os quatro anos porque eu era professora da escola e as mensalidades recebiam abatimento. De outra maneira não teriam chance de estarem ali. Eles eram conscientes das diferenças que havia entre eles e os colegas e até aquele momento tudo sempre transcorrera dentro da normalidade. Nada de querer ter o que não podiam. Por isso fiquei inquieta. Perguntei: “Como assim? Por quê?”. Ele respondeu inocentemente: “Estudei tanto e tirei nota oito. Meu colega não estudou nada, colou toda a prova e tirou dez.”. Fiquei aliviada: “Não filho, não foi inveja. O que te incomodou foi outro sentimento. Sentimento de Injustiça. Não te preocupes com isso. A nota que recebestes representa tudo que sabias naquele momento. E sabias oitenta por cento da prova. Teu coleguinha nada sabia, portanto tua nota embora menor vale muito mais que a dele.”
Não sei se consegui convence-lo. Ele simplesmente concordou com a cabeça e nunca mais tocou no assunto.
Meu filho acabara de conhecer a Injustiça.