AINDA RESTA UM CALDO....

Desprezou dançou, num é comadre? Assim começa

o papo das duas amigas.

Sabe comadre, aquele vizinho meio esquisito que só

vive falando mal da espôsa até para os cachorros do

bairro? Chama ela de doida, surtada, e velha? Pois é,

até parte dela ele já deu de tão ruim.Credo comadre,

porque ele fez isso? dizem que era para ficar livre da

coitada.Ué comadre , mais dizem que o velho já nem

funciona mais nas duas cabeças. É verdade, só que

não sai da rua, praticando os olhos nas outras.

Só enxerga a mulher para exigir comida, não conversa

nunca a presenteia, dizem que se a pobre reclama

ganha uns tabefes. Que homem estranho.

Só que voçê nem imagina o que ela me confidençiou.

Conta logo comadre. Ele adora uma boca livre, para

comer até passar mal. Fica o tempo todo onde vão,

de olho nos garçons. Não perde uma rodada de tão

desesperado. Ela diz que nem a olha.

Fica doidão nas meninas novas, humilhando a

patroa demais. Coloca o fone do celular no ouvido

ignorando a companheira para não conversar.

Ai vai o causo. Foram convidados para um festa,

inauguração duma churrascaria. Ela se arrumou com

capricho, ele nem a enxergou. Assim que chegaram ao

local, recebidos pelo cerimonial e o dono, um gaucho

simpático e gentil. Sentaram um frente ao outro, ela

querendo prosa e ele olhando para os lados tedioso.

De repente a mesa em que estavam, era muito bem

servida. Todos os convidados tinham que enfrentar fila

para servir. O gaúcho passava a todo momento diante

dela, olhando de um jeito...que não via mais.

Pensou estar com algum defeito, foi ao toalete, se olhou,

retocou o batom e viu que não estava tão velha assim.

Os olhos de avelã começaram a brilhar diferente enquanto o

marido comia, comia. Vinho servido com elegãncia e o olhar

do gaúcho levantando a bola da patroa desprezada em

casa, motorista de fogão e doida. E ai comadre conta o

resto. Pois é, no natal o maridão emburrado como sempre,

nem um feliz natal desejou a ela. Chorosa e triste com

tamanho desprêzo, atende a campainha, era um boy com

bela caixa de bombons finos e uma orquídea. Mais tarde

o celular toca e uma voz de travesseiro diz.

Voçê é encantadora.[ moral da história, sempre existe um

chinelo para um pé desprezado, quando um tampa o ouvido

para não ouvir mais a companheira, alguém liga, atiça o seu

viver] Um sonho talvez, um amor utopia, não importa , o que

valeu foi se ver de novo uma mulher e não um museu de

tranqueiras para um marido cruel e irônico. Um galanteio,

um telefonema, um presente, acordaram nossa amiga para

a vida. Só sei que amanhã ela vai botar botox, me disse, viu

comadre? Que bom, boa noite, inté!!!

SANTOMÉ

santomé
Enviado por santomé em 27/12/2009
Reeditado em 29/12/2009
Código do texto: T1998783