RUBIÁCEA

Minha quinta à tarde é triste
São tristes minhas quintas à tarde
Você não vem

E quando você não vem
Tudo é sem graça
O tempo parece que não passa
Fico a te esperar

Na esperança de que você em breve chegue
Corro e olho em volta
Passeio a vista pelos corredores
Vejo o portão
Olho as salas
Nada

Droga tinha me esquecido
Hoje é quinta e você não virá

Só me resta então imaginar
Te vejo com as crianças
Agora és mãe

Aquele pede esse chora
O marido abusa
A mãe liga
A pia entupida
A panela queimou

A empregada faltou
Faltou minha regra
Eu tô atrasada
A água foi embora
Eu tô ferrada
Eu mato essa empregada
Vão se a puta que pariu

Mas hoje não é quinta
Hoje você vem
Meu coração ansioso
Tic-tac nervoso fico a te esperar

Mas ainda é cedo
Deve estar no banho
A essa altura a água já voltou
A roupa a um canto largada
No corpo só a toalha
Vou te imaginar

A porta se abre se fecha
Diante do espelho
Um olhar pensativo
Perdido distante
Já não é o mesmo de antes
Também não vou chorar

Pensa no marido
O que está fazendo a essa hora
Um jeito nos cabelos
Se ajeita para o espelho
Uma pose
Uma careta
Um sorriso
Uma gargalhada
É eu dou pro gasto

Pendura a toalha
A torneira
O chuveiro
A água
A janela
A luz multicores

O corpo dourado
A água
O sabonete
A espuma
A deslizar pelo corpo
Olha a hora
É hora da escola
Hoje você vem

E quando você vem
Meu Deus quando você vem
É maravilhoso
É a mesma coisa e não é a mesma coisa
É diferente quando você vem

Tudo se alegra
Meu peito acelera
O teu sorriso me acalma
Teu olhar me fascina
Minh’alma viaja
Parece que já te conhece a tanto tempo
A porta se abre
Entramos todos sorrindo
A sala se ilumina
Dividimos tarefas e vamos à luta
A meninada nos espera

Que bom que hoje não é quinta-feira
Você veio
Vou te ver a tarde inteira
Bom te ver
Prazer te conhecer
Que orgulho ser teu amigo