Mais uma de...
Havia uma comunidade muito carente, chamada Cantagalo, em uma grande capital, neste local, faltava tudo, pois, tudo era muito precário, as ruas não eram pavimentadas, havia muitos buracos, não havia tratamento de esgoto, tampouco, água encanada, a maioria dos moradores, havia invadido os terrenos e sequer tinham a documentação dos mesmos.
Neste local, havia um morador que todos o chamavam de seu Mane, um senhor de meia idade, muito trabalhador e honesto, que, nas horas vagas, lutava para melhor a vida dos moradores da comunidade.
Tapava buracos, ajudava a construir barracos. Por muitas e muitas vezes, levava moradores que estavam doentes, no seu corcel 72 velho, para o Pronto socorro.
Organizava mutirões de limpeza, para conservar a comunidade longe da Dengue, da Leishmaniose, e outras doenças perigosas.
Seu Mane, ajudava muito comunidade, sendo considerado por todos a pessoa mais importante e influente do local.
Todos admiravam e respeitavam seu Mane.
Na verdade, todos amavam seu Mane, pois, para eles, seu Mane era como se fosse da família.
Quando precisassem sabiam que podiam contar com ele.
Então, um dia, moradores bateram à sua porta fazendo-lhe uma proposta.
- Nem pensar. – respondeu – Não gosto e não quero me envolver com política. Sinto muito. Eu sei que Cantagalo precisa, e muito, de um representante, mas, eu não posso ser, sinto muito, amigos, sinto muito mesmo, mas, dessa vez, não poderei ajudá-los.
- Pense bem, seu Mane, precisamos de uma pessoa para nos representar, precisamos de alguém para legalizar a nossa situação aqui e só o senhor é capaz disso.
- O Senhor sabe muito bem, das nossas necessidades, vamos lá, nos ajude se candidate. Todos nós precisamos, e muito, do Senhor. – disse outro morador.
- Não dá... – respondeu.
- Claro que dá. – disse outro morador – O Senhor tem os votos de todos os moradores da comunidade além de ser a pessoa mais preparada para nos representar.
- Isso mesmo – disse outro.
E assim Mane candidatou-se, e foi eleito.
Após assumir sua vaga na prefeitura, Mane pôs-se a trabalhar pela comunidade, transformando-a.
Luz elétrica, água encanada, pavimentação, a comunidade transformou-se em um lugar melhor e seu Mane foi o responsável por toda essa transformação.
Seu Mane começou a ser reconhecido na cidade, pois, apareceu em várias redes de televisão e rádios levando o nome da comunidade. Conseguiu vários projetos sociais para o local, o que fez com que Mane se transformasse no Rei do local a pessoa mais influente.
Sua palavra era ordem, ninguém o contrariava, chegou até a dar conselhos aos moradores de como poderiam viver melhor em suas casas.
Seu Mane, não só ajudou a sua comunidade, mas as comunidades carentes próximas, transformando-se no recordista de votos, em sua segunda eleição.
Depois de reeleito, seu Mane começou a mudar, quase não parava na sua casa localizada na comunidade, de uma hora para outra, ele desapareceu.
Sua casa na comunidade foi demolida.
Ele não apareceu mais, sumiu, pouco a pouco seus projetos foram se acabando.
Os moradores, ansiosos, e apreensivos o procuravam, iam à câmara, mas ele nunca os atendia, sempre estava ocupado em reuniões intermináveis.
Tempos depois, foi eleito deputado, já não morava mais em Cantagalo, a comunidade, também, já não fora mais a responsável pela sua eleição. Agora, seu mane, morava em um bairro nobre da cidade, andava de carro importado, seus filhos estudavam em escolas particulares, não tinha mais nenhuma ligação com o povo que o elegeu.
Continuava sendo o Seu Mane, mas, não da comunidade que o elegeu, e sim do partido que o elegeu.
Mudou-se para Brasília, para ficar mais próximo do trabalho. Enriqueceu. Comprou fazendas e jatos. Nunca mais voltou para a periferia de onde saiu.
Anos depois, foi acusado de desviar dinheiro que iriam para a merenda escolar de um estado, mas, foi absolvido, por falta de provas.
Novamente, foi reeleito e reeleito.
Novamente foi acusado de falcatruas, desvio de verbas e suborno.
Novamente foi absolvido.
Na comunidade, principalmente os mais velhos dizem que ele foi obrigado a abandonar o local, e que, por sua ingenuidade esta sendo usado por pessoas mais espertas, que tiram proveito dele.
Outros dizem que ele é mais um filho da puta.