Intendente doméstico
Eu era o encarregado de fazer as compras lá de casa. Armazéns, padaria, feira etc; tudo era um compromisso meu. Na época da guerra, havia muita dificuldade de alimentos; a banha era difícil, o pão e açúcar racionados. O pão deixou de ser puro trigo, para vir misturado com fubá; de qualquer modo, eu gostava. Meu pai encomendava na Padaria Plus-Ultra uma bisnaga de tamanho especial para dividir pelos sete filhos; durante o racionamento, nós íamos cedo para a fila pra não ficar sem o pão. Diz o povo, que em casa onde não há pão, muitos falam e ninguém tem razão! Até hoje, considero o pão o símbolo do equilíbrio; pode sobrar, nunca faltar. Meu avô sempre que podia, levava uma lata de banha de porco pra minha casa, pois, a dificuldade de conseguir era muito grande. O que mais me afligia era o racionamento do açúcar, pois, gostava muito de limonada e mesmo água com açúcar, açúcar na manteiga do pão e outras excentricidades. Uma das coisas mais gostosas era o bolo forrado com caldo de limão açucarado; ainda hoje, tenho saudade daqueles cubinhos adocicados. Fazia muitas compras nos serviços de subsistência do Exército em Benfica e Deodoro, que tinham um queijo parmesão delicioso; daquele tipo que costumava comer no Arlechinno a peso de ouro. O melhor arroz era do Armazém Vaticano; meu pai comprava fiado no armazém do padrinho da Maria; o comerciante não poupava nem o compadre, e colocava alguma coisa além do que devia; meu pai se livrou do fiado! Nossas compras passaram todas a ser a dinheiro e quando faltava eu ia ao Laboratório onde ele trabalhava, lá pelo dia 15, buscar um vale com meu pai; Seu Mendes o patrão, nunca lhe negou um vale e no fim do ano lhe dava uma caixa de vinho Grandjó. Eu achava super-chique!