Noite de Verão

Naquele verão dias e noites estavam insuportáveis e ela só fechava a porta da sacada depois que todos se recolhiam para seus aposentos e foi justamente aí que se deu a tragédia. Ela foi fechar a porta e quando olhou teve um sobressalto e ficou espantada. Frente a frente ficaram ela e uma máscara de Lúcifer, tenebrosa. Foi colocada nas lanças de ferro do portão de entrada, olhando para a sacada. Ela deu um grito e chamou o marido e disse olhe só o que estou vendo. O marido ficou muito assustado e disse, amanhã a empregada tira isso daí. Ela respondeu, isso nunca, imagine que eu vá dormir sabendo que tem um chifrudo pregado no nosso portão e olhando para dentro da nossa casa, mas de jeito nenhum. Estavam nesse impasse, quando tocou o telefone, era o filho para saber se estava tudo bem. O pai narrou os acontecimentos e disse já falei para sua mãe, amanhã a empregada tira aquilo de lá. Aí o filho quis falar com a mãe. Ela disse não se preocupe e o filho respondeu, como não me preocupar, isso pode ser um código para assalto, chame a polícia e desligou o telefone. Ela disse para o marido, estou cansada de ser a chifruda da casa, assuma você e ele ligou para a polícia e o diálogo foi mais ou menos assim: ele relatou o ocorrido e o policial quis saber o nome do meliante e o marido disse que não sabia, se soubesse não estaria pedindo proteção policial. O policial perguntou há quanto tempo o senhor reside aí, o marido respondeu, já quinze anos. O policial: o senhor ou sua mulher tem inimigo? O marido respondeu que não. Não tem ninguém que queira se vingar de um de vocês? O marido respondeu que não. Aí o policial respondeu, então não se preocupem, podem tirar isso daí e desligou. Aí foi ela que ligou para a polícia novamente e disse, o senhor por favor venha tirar isso da nossa porta não temos condições de mexer nisso, não entendemos de vodu e os senhores são da polícia e estão aí para nos proteger e venha rápido por favor. Meia hora depois a polícia veio e retirou a máscara. Foi só aí que ela se tocou do papel ridículo dela e do marido, pois era mês de janeiro e os barracões das escolas de samba nessa época do ano estão fevervendo.É bem provável que a mascara fosse apenas uma sucata, mas que assustou, assustou.

Nadia Foes
Enviado por Nadia Foes em 09/09/2009
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