O AVARENTO

O AVARENTO

Maldito locador,lá vem de novo amanhã ,sabe que não tenho dinheiro para o aluguel,só vem me atomentar.Já disse que não tenho o dinheiro agora mas as coisas vão melhorar,vou arrumar a Van ,que está parada , sem pneus e bateria, parábrisa quebrado,só pega no tombo,motor quase batido mas vai dar certo .Ademais , recorri judicialmente para minha aposentadoria,tenho uma doença grave (miastenia gravis),a Previdência apelou para outra instância mas um dia ,se Deus quiser,serei aposentado.Estou dormindo no chão, a mulher se queixa muito, os meninos estão gripados e sem roupas,sinto-me fraco ,os membros parecem que estão sendo paralizados,sinto muito cansaço e fraqueza.Nada disto parece sensibilizar o homem,sabe de minha situação,conhece minha família,mas não deixa de me visitar para soltar um "oh,não,assim não dá, desocupe logo a casa..." ou um "nada posso fazer...".

Sabia que era avarento mas não a este ponto.Ouvi os vizinhos falarem que seu pai morava na casa onde moro ,onde funcionava uma oficina de restaurar motores,tinha dinheiro guardado mas que era tão somítico quanto ao filho e falecera havia algum tempo. O miserável filho pressionara a velha que morava com ele, havia vários anos,nada deu a ela e ainda a ameaçou de prisão ,caso ela não dissesse onde o velho guardava o dinheiro . A pobre coitada chorava muito ,dizia que não sabia.Inconformado o tacanho expulsou-a de casa e decidira morar lá algum tempo,para procurar o dinheiro.Os vizinhos viram-no em febre,como numa revolução: Revirara os móveis,abrira velhos motores e suas carcaças,rebuscara nas velhas panelas, vasculhara os telhados,batera com uma pedaço de ferro nas paredes e piso,para ver se achava algum esconderijo camuflado;Depois ,inconformado por nada encontrar,como um possesso,escavacara o muro de chão batido por vários dias ,soltando impropérios, excomungando o velho e a velha, dizendo em voz alta:”Maldito velho,sei que tens dinheiro guardado, esta velha merece é a cadeia e o isolamento,roubou meu dinheiro”.Deu várias viagens a casa da velhinha, mas depois de vários meses,extenuado de tanto procurar o dinheiro e atazanar a velhota, desistiu a contra-gosto e ,por um acaso, me alugou a casa.

Minha vida se tornara um inferno, o mesquinho não me deixava em paz,depois que comecei atrasar os pagamentos. Recentemente começara soltar palavras de baixo calão,deixando mulher e filhos apavorados.Pensei , seriamente, abandonar tudo e sair por aí, morar embaixo da ponte ou viaduto, ou dentro da Van encostada,mas seria castigo demais para meus filhos.Resignado,resolvi enfrentá-lo , calado e com paciência, esperando apenas por Deus.

Estava me ajeitando,para dormir no chão áspero e úmido,e resolvi pegar um pedaço de pau para matar um rato que passara por baixo dos molambos amontoados;Cansado e doente, mal enxergando o bicho, taquei-lhe um violento golpe, mas errei o alvo, indo o pedaço de pau ao encontro da alvenaria da parede,em um ponto inusitado e de difícil acesso,próximo a calha do telhado, onde, estranhamente, soou oco e vazio.Meu filho de doze anos,ouviu o som estranho e futucou o local com uma varinha de ferro, não tardando a encontrar, enrolado em um saco plástico o dinheiro escondido, milhares de reais, em notas desgatadas pelo calor do telhado, mas perfeitamente intactas.Era uma quantia suficiente para comprar três carros populares zerados...

( este foi um caso real,muito próximo ao que acabei de narrar ,com uma pessoa conhecida,achava que não acabaria hoje, mas demorei apenas 30 minutos para escrever este "conto".)