*A BONECA QUE VIROU BRUXA
Lívia estava sentada desfilando na calçada, à tardinha, parecia uma boneca de louça, dessas que a gente tem vontade de levar para casa e conservar sempre linda, sem lhe estragar nenhum pedacinho que a natureza lhe ofertou. Tinha apenas cinco anos. E os anos, foram seguindo no mesmo ritmo de uma roda gigante, horas bem no alto, como a força dos atletas, horas bem por baixo como a depressão dos terrenos nas valas das chuvas. É assim que se comporta a natureza. Quando a água banha a terra em demasia, dizimando as populações e renegando da terra a fartura do plantio ou na escassez de água ressecando a terra, deixando o povo faminto, mas com a esperança num inverno vindouro.
A menina seguiu entre secas nordestinas e enchentes do Rio São Francisco, transformou-se numa bela mulher, ainda menina, 15 anos de formosura. Parecia uma Rapunzel dos contos de fada. Uma fina cabeleira loira, deitada sobre os ombros, uma pele da Branca de neve, alvura de princesa resguardada do sol, no olhar duas bolas da cor de anil e da inocência das donzelas do antigo sertão.
O corpo esbelto, mas com carne, linhas bem torneadas longe das manequins de hoje, esqueleto com pele.
Mudou-se para cidade grande. Casou cedo, teve quatro filhos, separou do marido, casou novamente, separou. É assim nos tempos modernos. A mulher trabalha, estuda, e quando os relacionamentos não estão do seu agrado, ou a escolha não foi o esperado ela alça voo, parte para independência ou depressão, e os filhos têm que entender aguentar o rojão e dizer: Sou moderno/a está tudo bem.
Engordou. Aquele corpo, de uma beleza de tela de pintura, ou escultura de uma Vênus, se apagou. Parece que os pincéis enlanguesceram na mão da natureza. Nada lembrava a visão do passado. Parecia outra mulher de rosto e corpo deformado, uma bruxa. Decidiu fazer um regime, mas quanto mais tentava mais aumentava. Tentou vários regimes e nada dava certo.
Certa vez leu uma dieta que recomendava apenas proteína. Tentou. Comprou um frango, assou no forno com todo esmero que um prato requer. Sentou-se bem em frente à TV e foi saboreando cada pedaço com um paladar de quem não comia há dias. E foi degustando cada naco suave e delicadamente, apenas o frango, sem legumes, verduras nem carboidratos. Complementos estes, essenciais ao equilíbrio do corpo humano. Terminou farta. A filha pasma reclamou. – Mamãe como a senhora quer emagrecer comendo um frango inteiro? Não menina. Eu não comi o frango inteiro, dei as asas, os pés e o pescoço para o Thiago...
sonianogueira
Foto escultura do google
Lívia estava sentada desfilando na calçada, à tardinha, parecia uma boneca de louça, dessas que a gente tem vontade de levar para casa e conservar sempre linda, sem lhe estragar nenhum pedacinho que a natureza lhe ofertou. Tinha apenas cinco anos. E os anos, foram seguindo no mesmo ritmo de uma roda gigante, horas bem no alto, como a força dos atletas, horas bem por baixo como a depressão dos terrenos nas valas das chuvas. É assim que se comporta a natureza. Quando a água banha a terra em demasia, dizimando as populações e renegando da terra a fartura do plantio ou na escassez de água ressecando a terra, deixando o povo faminto, mas com a esperança num inverno vindouro.
A menina seguiu entre secas nordestinas e enchentes do Rio São Francisco, transformou-se numa bela mulher, ainda menina, 15 anos de formosura. Parecia uma Rapunzel dos contos de fada. Uma fina cabeleira loira, deitada sobre os ombros, uma pele da Branca de neve, alvura de princesa resguardada do sol, no olhar duas bolas da cor de anil e da inocência das donzelas do antigo sertão.
O corpo esbelto, mas com carne, linhas bem torneadas longe das manequins de hoje, esqueleto com pele.
Mudou-se para cidade grande. Casou cedo, teve quatro filhos, separou do marido, casou novamente, separou. É assim nos tempos modernos. A mulher trabalha, estuda, e quando os relacionamentos não estão do seu agrado, ou a escolha não foi o esperado ela alça voo, parte para independência ou depressão, e os filhos têm que entender aguentar o rojão e dizer: Sou moderno/a está tudo bem.
Engordou. Aquele corpo, de uma beleza de tela de pintura, ou escultura de uma Vênus, se apagou. Parece que os pincéis enlanguesceram na mão da natureza. Nada lembrava a visão do passado. Parecia outra mulher de rosto e corpo deformado, uma bruxa. Decidiu fazer um regime, mas quanto mais tentava mais aumentava. Tentou vários regimes e nada dava certo.
Certa vez leu uma dieta que recomendava apenas proteína. Tentou. Comprou um frango, assou no forno com todo esmero que um prato requer. Sentou-se bem em frente à TV e foi saboreando cada pedaço com um paladar de quem não comia há dias. E foi degustando cada naco suave e delicadamente, apenas o frango, sem legumes, verduras nem carboidratos. Complementos estes, essenciais ao equilíbrio do corpo humano. Terminou farta. A filha pasma reclamou. – Mamãe como a senhora quer emagrecer comendo um frango inteiro? Não menina. Eu não comi o frango inteiro, dei as asas, os pés e o pescoço para o Thiago...
sonianogueira
Foto escultura do google