Vazio

VAZIO

Podia haver o tempo em que pensamentos interessantes morassem na mente, mas este tempo ilusório, quando chega, vai embora com demasiada rapidez. Quando horas passavam diante de mundos imaginados e satisfeitos, minha mente funcionava de acordo com o resto do meu corpo e então podia dormir em paz, enquanto que hoje, não posso nem ao menos encaixar uma frase na outra e montar algo colorido. Tão difícil quanto viver uma história notável, esta sendo inventá-la. Onde, em mim, foi parar a criatividade? Quando estou amando, devoto toda minha força a isso que sinto não raramente. Quando não amo, devo aproveitar o vazio do meu coração para tirar o que, de mim, mais me agrada, o que de mim, não faz doer. A única graça na vida de alguém como eu acontece quando olho ao meu redor e percebo me sozinha e mesmo assim completa, quando me falta a presença de alguém ai fatalmente me falta.

Sou um ser incompleto, sei apenas falar do que me falta, do que não quero. O amor nunca é satisfeito, mas viciante me faz buscá-lo em cada olhar. Os olhos que me acompanham agora nunca foram olhos de paixão, são apenas olhos companheiros de uma vida desesperada e solitária como a minha, se me ama, não consigo sentir. Quero apenas a presença, o contato, a companhia, a quebra da minha estabilidade. Quando busco me a só, não encontro me, pois em mim abriga apenas a mente alheia. O medo que tenho em voltar a mim é tão apavorante que nunca posso tentar. Quantas vezes pensei na solução provável, quantas vezes decidi parar! Há mais de um ano sai de onde vim e não estou completamente curada. Senão era o meu lugar, onde estou é menos ainda.

Cada folha que caiu neste outono e que fez do verde a fertilidade do chão, levou de mim uma parte viva. O que é fértil no chão de agora só me toca quando piso, minha fertilidade dói, meu desespero é vazio, meu ódio é mortal. São horas que me passam pelas mãos tentando fazer sangrar cada veia dos corpos que não me merecem. Cada dedo que comporta as unhas sujas daqueles que vivem no mundo real que eu nego, devem morrer por mim. Quando será que vai desmoronar de vez minha vergonha e fazer aparente para o resto do mundo esta agonia que nunca passa? Quantos os hospitais que me farão paciente? Mas há em mim uma confusão causada pela arte da interpretação. Já, inúmeras vezes, pude viver de forma civilizada com belas roupas e admirada, é uma sensação confortante, até que me deparo novamente com meus olhos fedendo diante dos espelhos, que repelem tudo, todos e qualquer relação saudável entre humanos e fecho me, relutante ao que sinto, e nem sempre ao que acredito. A mente é confusa e deve haver algo que está encaixado de forma errada. Se há um Deus guiando meu caminho ele deve estar embriagado. Minha mente expulsa tudo o que há de estável e agradável, ela faz difícil a construção da vida. A vida que é uma só torna-se imprevisívelmente previsível e então, sinto como se nunca fosse ser capaz de criar a minha própria. Vou vivendo a vida dos outros, ainda não sou eu, ainda sou a filha dos meus pais, a neta, a prima, a irmã, a amiga. Ainda vivo em função de vidas já construídas. Sou o problema da vida dos meus pais, sou aquilo que eles não compreendem onde erraram, sou eu ainda morando e sobrevivendo deles. Não posso querer, não posso sonhar, não sou capaz de produzir, de construir, estou sendo o estragado, o acompanhante, o coadjuvante das vidas que conheço. Há em mim uma mente sórdida e solitária, há em mim uma mente INDIVIDUALISTA, sou apenas uma mente ainda, não sou um ser vivo pensante, sou uma pura mente perturbada e infectada por esta realidade tão fétida!

Estou sozinha entre mim mesma!

020709 03:13

BCA (operada)

BCA
Enviado por BCA em 16/07/2009
Código do texto: T1702645
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.