Um cavalo chamado Cabrito
Um cavalo chamado Cabrito
Theo Padilha
“Meus pensamentos chegam em forma de viagem vou pra onde Deus quiser”. Então lá vou eu. Durante os anos 1954 a 1959, morei numa pequena vila chamada Conselheiro Zacarias. Ali vivi minha infância. Comecei os meus estudos e me lembro muito bem, que cheguei a chorar para ser matriculado na primeira série. Certamente ocorreram alguns problemas de matrícula. Nesta pequena cidade meu pai era ferroviário.
Ali conhecemos o “Compadre Juca Bittencourt”, como era chamado lá em casa. Ele foi padrinho de casamento de minha irmã. Seu Juca era proprietário da maior venda do povoado e ficava a alguns metros de minha residência. Ele tinha cinco filhas. Seu Juca gostava de cavalos mas não montava. As meninas montavam mas contra a vontade do pai. Foi quando achei uma brecha para cuidar de um de seus cavalos.
Cabrito era o nome do cavalo que me foi cedido. Aquilo para mim, nos meus oito anos, foi um sonho. Eu não saia do lombo daquele belo animal. Vivemos muitas aventuras. Ora comprava laranja nas redondezas, ora fazia pescarias, fazia pega na fazenda dos Leites, enfim era um garoto feliz. E cuidava muito bem do Cabrito. Sentia-me um caubói. Como já disse esse cavalo era lindo. Gordo, eu tratava muito bem dele. De pelugem vermelha, com uma estrela na testa. (Como aquele da novela “Paraíso”). Só eu conseguia pegá-lo no pasto. Certa vez dando carona para um amigo, este começou a esporear para fazê-lo disparar e numa curva chegamos a cair. Ele era filho do chefe de meu pai na estação. O Joãozinho quebrou o braço na queda. Foi duro para todos.
Mas assim mesmo continuei cuidando do Cabrito. Eu estava muito feliz para ser verdade.
Essa alegria foi sufocada quando seu Juca disse:
- Tiãozinho! Tenho uma triste notícia para você. Sei que gosta do Cabrito. Mas eu vou ter que vendê-lo. Estou vendendo a loja e vamos embora para Jacarezinho!
- Que pena seu Juca! Eu tencionava comprá-lo. Tenho até guardado dinheiro!
Falei quanto tinha e não dava nem a metade do que seu Juca queria. Logo depois eles foram embora e continuei cuidando do Cabrito e cada vez que esse homem vinha subia o preço do cavalo. Parecia que não queria vender. E nesse vai e vem um dia seu Juca apareceu com um comprador. Eu ainda tive que pegá-lo chorando e lamentando a sorte de nunca ter podido comprar um cavalo. Mas acho que não acharia outro como meu bom Cabrito. Quantas saudades tenho do seu trote, do seu galope, do seu relincho me conhecendo.
Joaquim Távora, 16 de julho de 2009.