A agenda
Heh, não tenho o costume de escrever em diários ou agendas. Sabe como é, um dia esqueço, no outro tenho preguiça, em outro não encontro o caderno... Sempre fui assim. Para ter uma idéia, até hoje não sei do meu ciclo menstrual porque sempre esqueço de marcar os dias. Não que eu precise de tabelinha agora, mas no dia que eu precisar é bom já conhecer o meu ciclo direitinho, né? Como já deve ter percebido, sim, ainda sou virgem. Nos Estados Unidos talvez estivesse atrasada, mas isso é normal por aqui. Tá, eu odeio ser virgem e sou a única entre as minhas amigas, mas o que posso fazer se ainda não encontrei "o cara"? Quem sabe eu já o tenha encontrado, mas eu nem quis olhar direito pelo fato dele ser muito feio (afinal, o cara 'destinado' para mim não deve ser lá essas coisas)... Sou superficial sim, mas quem não é? Vai me dizer que você fica paquerando um cara horroroso no meio da rua? Ah, e não venha me dizer que "o que importa é a beleza interior", que eu mesma já disse várias vezes esta mesma frase para só depois descobrir que é só fantasia de menininha romântica... Nossa, eu pareço uma doida falando com uma agenda... Tudo bem, de louco e de... ih, como é mesmo o ditado? Porra, esqueci... ah, de médico e louco todo mundo tem um pouco (ditados são nojentos, principalmente os que rimam ¬¬)? Espero que seja. Caralho, minha mão tá doendo muito (nem pense besteira)! É que eu escrevo muito no colégio e quando chego em casa, ainda tenho que fazer as tarefas que eles mandam... É nessas horas que eu daria (quase) tudo para ser ambidestra (ambidestro tem feminino? :P)! Sabe, eu não sou intelectualóide (pra falar a verdade sou até bem burrinha) mas de vez em quando tenho meus ataques filosóficos. Eu tava lendo a letra de uma música e me veio uma reflexão (não, não foi muscular)... Foda é que depois de tanto escrever eu acabei esquecendo... Acho que já deu pra notar que eu adoro usar reticências, né? Não, não é para parecer mais profunda, mas às vezes o silêncio de meras reticências fala mais do que mil palavras (o que eu realmente preciso economizar com essas mãos doloridas). Não vá pensar que eu sou do tipo que gosta de usar frases de efeito. Muito pelo contrário, acho ridículo esse tipo de gente que quer dar uma de profundo e fica soltando ditados, palavras bonitas e frases de efeito ao vento. Mas sério, tenho que me controlar, senão vou me achar o próprio Machado de Assis e começar a dizer meu caro leitor... Ah, eu também já tive um blog, mas não deu certo pelo mesmo motivo dos diários convencionais. Pra falar a verdade eu nem gosto muito de computador. Uma amiga minha teve que começar a usar óculos por causa disto, pode? Não entendo como uma pessoa pode se degradar a este ponto só por causa de uma máquina fria e quadrada. Ainda mais eu, que já sou feia, ninguém ia querer olhar pra mim se eu usasse óculos. Claro, como toda adolescente que se preze eu também tenho um garoto que gosto e quero ficar bonita pra ele. Mas não importa o quanto eu me esforce, sei que ele jamais vai olhar pra mim. Ele estuda no terceiro ano lá no colégio (e eu no segundo) então ano que vem não poderei mais vê-lo... A não ser, é claro, que ele repita de ano... Mas quem repete o terceiro ano..? Aposto que eu conseguiria esta façanha ¬¬ Todo mundo que é bom já tá morto mesmo! Ou melhor, todo mundo que está morto é bom. E quem é doido de conspirar contra os mortos? Eu sou! Não acredito nessa de vida após a morte, mas sei que devo respeito a muitos mortos célebres que não pude conhecer mas admiro por demais. Em compensação, existem outros que merecem o destino que sua carne levou. Mas ainda há (ou houve :P) os piores, que chego a ter pena dos vermes que alimentaram-se de uma carne tão podre e fétida. Não se vasculha mais sobre a vida dos mortos pelo fato destes não afetarem mais na vida dos vivos (repetição maldita!). Afinal, que diferença faz agora se Getúlio Vargas planejava fazer de Porto Velho a capital do país ou se Lady Di estava grávida quando morreu? Morreu tá morto, os mortos não interferem mais nesta vida! (ou pelo menos é o que geralmente acontece). Tá, sei que estou indo longe demais nessa conversa de defunto, mas me revolta demasiadamente ver o nome de um sujeito inescrupuloso, tão limpo quanto o pus que saiu dos furúnculos das minhas nádegas, homenageado como um herói, como um herói bondoso que fora assassinado no auge de sua significância! Tendo o nome de sua cidade de origem mudado para o seu próprio porque um amante furioso, em um momento de ira, vingou-se de um dos atos que não merecem ser homenageados, os atos deste pobre homem assassinado que danificou a vida do outro e de tantos que não tiveram, não quiseram, ou não puderam vingar-se à altura. Depois de morto todo mundo é santo... É perdoado, vai pro céu. E senta ao lado do trono de deus para ter sua cabeça acariciada num gesto de perdão dos atos terrenos. É curioso viver num mundo tão irônico, onde os vivos se matam para ter um momento célebre. Literalmente. Quer momento mais célebre na vida do que a morte? Um funeral (mesmo que modesto), onde se é o centro das atenções, todos os presentes chorando por ti, sendo neste momento perdoado por todos que ainda encontravam qualquer raiva sua (enquanto estes mesmos conversam com um conhecido, mal sabendo ele, que enquanto conversa contigo, e sorri para ti, está planejando para qual motel irá com tua esposa). Um paletó novo só para esta ocasião. E as flores? Nunca tivera tantas flores ao teu redor! Nem ao mesmo no teu casamento, ou nos tempos de colégio, onde, na tua sala, o número de meninas era superior ao de meninos. Se disser que nunca perdoei nem idolatrei um morto estarei mentindo. Sou uma reles mortal, erro (não direi peco por não saber o que é isto), confesso que até superiormente que o normal. Sou uma jovem cheia de vida e amor para dar, ninguém é santo. Quando pequena já roubei chocolate de supermercado, pirulito da bolsa da colega (esta tão egoísta quanto eu), briguei no colégio, chinguei meus pais mentalmente, rasguei a orelha daquela guria chata que havia jogado areia nos meus olhos, menti, saí escondida de casa, matei aula, fiquei com garotos comprometidos, me masturbei, menti novamente, omiti a verdade mais do que devia... Ainda bem que não sou santa! Não posso dizer que não vivi intensamente, tampouco incessantemente. Sou apenas mais uma adolescente sonhadora, que tem um garoto por quem preza e que escreve besteiras na agenda...