O Corpo
O que é necessário? O que é real? Como se manifesta a vontade? Aqui e agora todas estas dúvidas parecem me claras. Aqui e agora, dentro de mim há respostas absolutas.
Depois de fazer amor com ele, sinto o necessário e isto nada mais é do que uma vontade real de expressar a magia de dois corpos que não se desejam, nem ao menos se amam, mas que estabelecem uma magia carnal, física, corpórea ou como queira. Um bem maior que nos faz agir com os sexos independente da mente. Hoje nem sinto vontade de tomar banho, quero que permaneça por mais tempo este pó mágico que acoberta todo o meu corpo. Não me importo com o homem, com a relação, talvez se o fizesse deixasse de ser tão sensível ao meu corpo. Fazer amor não pode ser apenas moral e social. Meu corpo precisava de contato físico, meu sexo precisava de complemento, minha pele implorava por suor alheio. Foi maravilhoso. Tão maravilhoso que não precisou do orgasmo. Tão maravilhoso o ritmo de dois corpos se precisando ao mesmo tempo. Tão maravilhoso as faíscas que saiam dos pêlos molhados. Isto é a verdade. Isto é o necessário. Isto é a vontade se manifestando sem pudor, sem medo, sem barreiras. Isto é a vontade real. Isto é o que é real entre os homens. Sentir a necessidade e as possibilidades maravilhosas de corpos, de sistemas orgânicos que são reais, perfeitos, embora atualmente, menosprezados por uma cultura confusa que diz o que não quer dizer, que se camufla atrás de opiniões, religiões, morais inventadas que suprem medos e vergonhas. Vergonha do que é necessário, do que é real, do que se tem vontade.
Deitada novamente na minha cama, ainda com vestígios daquele amor entre corpos, não sinto vontade de extinguir este cheiro, como forma de higiene que foi estabelecida também por esta cultura confusa. Quero dormir fazendo parte e prolongando ao máximo este sentimento que só meu corpo é capaz de sentir, que minhas palavras não podem explicar. Quero que fique em mim esta sensação de pureza que compartilhei, esta nirvana que meu corpo alcançou. Quero que isto tudo fique, até que tudo passe, até que a vontade reapareça, até que a realidade do que é necessário tome meu corpo novamente.
Agradeço a ele que junto as minhas pernas fez delas pernas verdadeiras, força verdadeira. Agradeço esta liberdade experimentada. Este suor necessário. Esta representação do céu. Meu corpo como representação e vontade! Absoluto atingido em troncos, membros, respirações que vêm de dentro, de uma alma que busca o prazer, a satisfação ingênua, comum, natural. Alma que reconhece perfeitamente esta vontade imensa e escondida que cresce e é diariamente podada, sem necessidade. Agradeço a ele que compartilhou sensivelmente este momento de prazeres singulares e indescritíveis.
Cheiro, toque, olhares, sentidos, organismos, águas, peripécias de uma espécie única que ao mesmo tempo em que pode quebrar limites corporais e prazerosos, tranca-se na sela do medo, do preconceito, do pudor. Espécie única e maravilhosa que tem um corpo inteligente e incrivelmente sensível. Encontro de águas! Neve e fogo! Janela e cortinas! Correnteza e pedras! Dedos e órgãos! Real. Necessário. Surpreendente. Vivo! Sexo! Sexos!
Obrigada a força maior que me faz racional e suficientemente sensível para perceber esta mágica tratada em códigos. Decifrá-los racionalmente. Ter a dádiva de além de sentir, pensar em cada parte do meu corpo que agora sorri, satisfeito. Meu corpo todo diz sim, obrigada, e eu posso ouvi-lo, posso dar preferência a estas vozes que tentam dialogar, mas não podem, pois estão em estado de êxtase, descontrolados, mas extremamente felizes. Tenho o grande prazer de deixar meus dedos contarem como minhas palavras sonoras não poderiam fazer. Meu corpo dança parado em cima desta cama. Meu corpo canta e diz sim, obrigada. Meu corpo fala e agora ele diz; permaneça, durma tranqüila, estou saudável e em harmonia!
Obrigada por ter um corpo! Obrigada por senti-lo, por pensá-lo!
Dormirei agora sem banho, sem higiene industrializada, dormirei pura, limpa e cheia de vida!
Apenas agradeço...