Enquanto eu descia as escadas até o saguão pensava no quanto desejara por este momento, no quanto esperara e, principalmente, no quanto lutara. Desde menina sonhava em ser eterna. Marcar o mundo com tal intensidade que o tempo não apagaria. Ao crescer, ainda sentia minha alma iluminar-se com tal desejo. Imaginei diversas formas de realizar isto. Até que um dia, por acidente, percebi que haviam tantas poesias minhas espalhadas em pedaços de papéis... Que fui lendo, fui gostando, fui juntando. Montei um livro. Depois de muitas explicações e muitos "não", alguém disse: "sim!" E aqui estou. Prestes a realizar meu sonho. Piso no saguão. Aplausos. A luz ofusca meus olhos, enquanto os flashes roubam cada angulo meu. Depois da cerimônia, os autógrafos. A fila forma-se. Aparentemente à noite de lançamento oficial é um sucesso. Para mim não estava sendo. As pessoas conversavam comigo sobre como meu vestido era bonito, como eu estava radiante, como a crise do petróleo afeta o planeta, falavam sobre tudo. Menos sobre o meu trabalho. Pensei comigo: “Isso não me tornará eterna!”. Quanto mais rostos passavam, maior minha decepção. Minhas esperanças estavam esvaindo-se. Foi quando vi. Aquela menina de olhos atentos vindo até mim. Segurava meu livro como se dentro dele houvesse todos os seus segredos. Sorri. Seus olhos, agora mais vivos que nunca, refletiam as palavras que saiam de sua boca: "Obrigada por ter escrito uma poesia sobre mim." Autografei o livro. Um sentimento novo irradiou-me. Vi a eternidade pela qual tanto sonhei, estampada na aura daquela menina de olhos atentos.