Correspondência

Vitória, 07/01.

Mi,

você não vai acreditar, a cidade é um amor! As pessoas são calorosas, as praias são lindas e o bangalô é demais. Acabei de chegar, e a viagem foi tranqüila. Só escrevi pra dizer que tudo vai de bem a melhor. Não se esqueça de me escrever! Beijos,

Nanda.

Rio, 12/01.

Amiga, como poderia me esquecer de você? Por aqui tudo vai bem, e pouca coisa mudou. Espero ir com você da próxima vez, se minha mãe deixar. A única novidade é que ontem foi o niver do Léo, teve churrasco e tudo. Sua irmã usou aquele teu vestido azul e o Roberto estava um gato! Conta como vão as coisas por aí, hen! Quando puder, me escreva. Ass.: Michele.

Vitória, 15/01.

Mica,

voltava da praia quando vi sua carta em cima da mesinha de recados. Também recebi uma carta do Oto, aquele chiclete, mas a ele eu não vou responder mesmo. Menina, você nem imagina, estou ficando moreníssima. Obrigado por escrever, e fala pra minha irmã não usar mais nada meu. Aquele é o meu melhor vestido. Ó, comprei um par de tamancos que é a sua cara, Mi. Na volta deixo você usar. Até a próxima. Ass.: Fernanda.

Rio, 21/01.

Nanda, desculpa a demora. É que aconteceu um imprevisto: o Oto, outro dia, estava jogando bola na praça quando sentiu uma dor de cabeça, foi parar no hospital. A galera toda quis saber o que era, mas o resultado dos exames ainda não chegou.

Sabia que passei luzes no meu cabelo? Todos gostaram. Depois mando uma foto. Aliás, manda uma foto daí pra galera ver. Ta todo mundo perguntando por você. Vê se escreve,

Mi.

Vitória, 25/01.

Mi, que susto essa do Oto, hen. Lembra quando ele quis ficar comigo no carnaval passado?

Bati umas fotos daqui sim, mas ainda não revelei o filme. Tô conhecendo uns amigos bem legais na cidade, mas não me esqueço de nenhum de vocês. Dá um beijo pra rua toda, e, ó, fica de olho nas minhas coisas. Abraços,

Nanda.

Rio, 29/01.

Nanda, a galera daqui está morrendo de saudades. Todos mandaram um beijo.

Quanto a sua irmã, a vi usando o seu vestido azul de novo, no shopping, sábado. E olha que dei o recado.

A galera aqui tá meio triste, é que descobriram que o Oto tem um tumor no cérebro, mas dá pra operar daqui a um mês. Vê se escreve pra ele, oras! Ele ainda gosta de você, sabe.

Hoje fui ao cinema com a Gi e a Karen. Faltava você.

Vê se volta logo!! Com saudades, Mica.

Vitória, 04/02.

Mi, nem te conto, peguei uma onda pela primeira vez! Quem me ajudou foi o André, um gatinho que mora aqui no condomínio. Morri de medo de levar um caldo, mais foi o máximo surfar. Quando eu voltar, vamos experimentar surfar no Recreio?

Tô mandando uma foto minha, queimadíssima. E deixa que eu me entendo com a minha irmã depois.

Lembranças a todos. Nanda.

Rio, 11/02.

Amiga, espero que esteja curtindo as ondas como nunca! Conte mais detalhes desse tal de André. Ele tem pintinha? Você sabe que eu me amarro em cara com pintinha. Aliás, você está muito maneira. Que inveja!

Aí, aconteceu uma coisa por aqui que deixou a rua de luto: sabe o Oto, pois é, parece que o tumor estourou e não deu tempo de operar, e ele faleceu. Que chato, né? Sabia que ele sempre perguntava se alguma carta sua pra ele tinha chegado? E você não respondeu nenhuma pra ele... O enterro foi hoje, e a mãe dele perguntou por você.

Outra coisa, a tua irmã deu um jeito de rasgar teu vestido anteontem quando pulava o muro da tua casa. É que chegou de madrugada e tinha esquecido as chaves. Tomou a maior bronca da tua mãe.

Bem, pelo menos uma notícia boa: minha mãe me deixou ir pra Vitória com você da próxima vez! Não é demais? Ah, quase que me esqueço, vou usar aparelho nos dentes. Que chato!

Deixa um pouco do surfista pra mim, ta? Um abração,

Mi.

Vitória, 16/02.

Ai, Mica, que triste! Eu adorava aquele vestido. Minha irmã vai pagar outro, ah, se vai. Espera só.

Amiga, resolvi passar o carnaval por aí. Não tem tanta graça sem você e as meninas. O André mandou um beijo, quis saber como você era e tudo, mostrei uma foto sua e ele te achou uma gatinha. Senti um clima...

Ó, vê se escolhe um daqueles aparelhos coloridos. Mal espero ver.

Já sabia do Oto. Minha mãe me ligou. Nem me lembrava mais das cartas que ele mandava pra cá. Acho que as perdi todas.

Novidades: coloquei mais um brinco na orelha esquerda. Volto na semana que vem. Nem escreva, que é capaz de eu chegar aí primeiro. Até logo. Beijos,

Nanda.

Vitor Pereira Jr
Enviado por Vitor Pereira Jr em 12/04/2006
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