Contos uivantes 2
Entre mim e mim, um labirinto de vastidões intransitável aos anseios constantes me fazem vagar de porto em porto, atrás da esperança de esperanças crescidas, que realizem aqueles desejos doentios.
O tapete verde tremulava e uivava contra o vento uivante e meus poros oxigenados de eucalipto cerravam-se, enclausurando tantos eus dentro de mim, aflitos por não se dispersarem como os grãos de areia ventados.
Não doava a mim aquela mesma oportunidade de liberdade, abraçando algemas tiranas mais e mais, até quando estrelas nas ruas do céu escreveram-me o seguinte recado: “Mundo incompleto, sempre diferente, a cada dia mais faltando completar, tornando-se lindo por isto.”
Compulsivamente me olhei, não me vi, toquei-me, nada senti, falei e nada ouvi, porque lamentavelmente estava viva sem viver. Apenas contemplava o vento uivante impregnado e impregnando de vida todos os espaços, que eu porém não ocupava.
De perto em perto algo ocorria. Debaixo do teto de estrelas algo me acontecia, pura energia puxando energia de fora adentro e vice-versa, misturando conceitos, conflitando noções de dar e receber e quem completa quem.
E, de repente era eu a primeira estrela da frase abotoada no céu de anil: "mundo"; confusa, ofuscada, hesitante, engatinhando e fazendo-me incompleta na vastidão dos inacabados ventados e uivados.
Santos-SP-06/04/2006